É preciso prestar atenção no papel que o outrora tímido garoto de Palmeira do Piauí exerce na cena cultural brasileira
É possível que você aja com inabalável frieza ao humor despojado do comediante, youtuber e cantor Whindersson Nunes.
A sensatez, porém, recomenda rendição aos fatos: já não é mais possível ignorar a presença e o papel que o outrora tímido garoto de Palmeira do Piauí exerce na cena cultural popular brasileira. Antes restrito ao universo do Youtube, onde arregimentou um séquito de quase 23 milhões de pessoas, Whindersson Nunes ocupa, agora, todas as plataformas midiáticas. Mais: já é o 10º youtuber mais popular do planeta. E encerra setembro ocupando a surreal posição, segundo pesquisa do Google, de celebridade mais influente entre os jovens com idade entre 14 a 34 anos das classes A, B e C.
A sensatez, porém, recomenda rendição aos fatos: já não é mais possível ignorar a presença e o papel que o outrora tímido garoto de Palmeira do Piauí exerce na cena cultural popular brasileira. Antes restrito ao universo do Youtube, onde arregimentou um séquito de quase 23 milhões de pessoas, Whindersson Nunes ocupa, agora, todas as plataformas midiáticas. Mais: já é o 10º youtuber mais popular do planeta. E encerra setembro ocupando a surreal posição, segundo pesquisa do Google, de celebridade mais influente entre os jovens com idade entre 14 a 34 anos das classes A, B e C.
Interessante é que o garoto ganha terreno, a cada like do seu canal do Youtube, inclusive entre as gerações X e Y, o que é comprovado pelo fato de seus vídeos somarem inacreditáveis 300 milhões de visualizações. Coisa para pouquíssimos. O “Lampião do Youtube” ganhou tamanha dimensão que, antes de ser execrado, precisa ser compreendido como fenômeno midiático e antropológico. Whindersson Nunes é muito mais que um Neymar Jr. das redes sociais. É uma resposta ao momento que vivemos: o símbolo do Brasil que emerge do purgatório, envolto em densa camada de pessimismo e de amargor, no qual a Nação mergulhou por força da avalanche de escândalos que a mídia despeja dia após dia, aos nossos olhos e ouvidos, a partir do vasto cardápio de escatologias oferecido pelos poderosos da vez.
A ascensão do garoto do Piauí - assim como a atual explosão de popularidade do humorismo, nos seus mais variados matizes - cumpre o relevante papel simbólico de ser um lembrete aos poderosos de plantão: do que o brasileiro gosta mesmo é de se divertir, de rir sem amarras na boca e de ser feliz, displicente e descompromissado, apesar da política e de todos os seus horrores, pelos quais tem cada vez mais ojeriza. Com plenamente defensável razão.
O fenômeno Whindersson é, assim, o oposto do megalômano panis et circenses romano. Se em Roma o show era oriundo dos donos do império, aqui tem origem na patuleia, uma vez que nossos poderosos não oferecem nem migalhas ao povo. É um circo sem pão minimalista, como costumam ser as manifestações artísticas populares. Na voz e na teatralidade de Whindersson, a plebe, os poderosos e as celebridades fundem-se como matéria-prima para o riso e o escárnio, como diriam os arautos da chamada “teoria da superioridade”.
O psicólogo e doutor em Comunicação Márcio Acselrad vai além e sustenta uma ótima teoria para explicar o sucesso de gente como o garoto piauiense: sua capacidade de despertar emoções, a partir de uma base racional (o mundo real, o cotidiano), e assim igualar pessoas - sejam elas anônimas ou celebridades. O humor “serve para derrubar as pessoas e as instituições dos seus pedestais e mostrar que, no fundo, é todo mundo humano, mortal e que vai acabar na sepultura”, teoriza. Os brasileiros até tentaram conciliar humor e política quando, no seu mais amalucado voto de protesto contra os profissionais do ramo, garantiram dois mandatos sucessivos ao palhaço Tiririca no Congresso Nacional. Deu no que deu.
Eis que até Tiririca se rendeu aos encantos do poder, provando que mesmo o voto de protesto precisa ser bem pensado - e, ainda, que humor é coisa para poucos, como Whindersson. Vida longa ao despojado, pueril, minimalista, teatral e sobretudo divertido garoto do Piauí, porque dos poderosos de plantão, a massa, verdadeiramente, anda saturada.
Fonte: A Carta Capital
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