Fatos irônicos: Gilmar Mendes diz que tribunal não é lugar para fazer política
O ministro Gilmar Mendes, que volta e meia se utiliza da visibilidade de detentor de um alto cargo no Judiciário do país para atacar o PT (e apenas o PT), disse hoje em Recife que tribunal não é lugar de fazer política. “Quem quiser fazer política, que vá aos partidos políticos e faça política lá. Não na promotoria, não nos tribunais”, disse o atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante palestra do seminário do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em Pernambuco.
A palestra de Gilmar já entrou para o anedotário da política nacional como um dos acontecimentos mais irônicos da história recente do país. Além de criticar o uso de tribunais para “fazer política”, o que foi visto como uma provocação ao Ministério Público, o ministro mais poderoso do Supremo Tribunal Federal afirmou ter horror à possibilidade de que nos tornemos algum dia uma “togocracia”, em que juízes e promotores deem as cartas na Nação em vez dos políticos, como já parece estar acontecendo.
“Deus nos livre disto. Não pensem que nós, juízes e promotores, seríamos melhores gestores. Os autoritarismos que vemos por aí já revelam que nós teríamos não um governo, mas uma ditadura de promotores ou de juízes. Vocês vão confiar a essa gente que viola o princípio da legalidade a ideia de gerir o País? Não dá. Vamos melhorar a representação, melhorar o sistema. Não à república dos juízes e promotores”, disse Gilmar.
O ministro do STF indicado por Fernando Henrique Cardoso e que sempre foi acusado de ser próximo demais do tucanato para um magistrado, atacou diretamente a Lava-Jato. O que também é irônico, já que pouco tempo atrás, enquanto a Lava-Jato atingia apenas o PT, o ministro aplaudia a operação publicamente por ter “estragado os planos” do partido de “se eternizar no poder”. Agora que alcançou o tucano Aécio Neves e o presidente Michel Temer, a opinião de Gilmar sobre a Lava-Jato é inteiramente outra: a operação lhe parece “exagerada”.
“Expandiu-se demais a investigação, além dos limites. Abriu-se inquérito para investigar o que já estava explicado de plano. Qual é o objetivo? É colocar medo nas pessoas. É desacreditá-las. Aí as investigações devem ser questionadas. Investigação sim, abuso não”, disse o ministro.
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