Indicado ao Oscar, o longa gera debate entre políticos e artistas. Para alguns, a história é a de um herói. Para outros, a glorificação da violência americana no Iraque
Sniper americano estreia nesta semana nos cinemas brasileiros. O mais recente trabalho do legendário ator e diretor americano Clint Eastwood chega trazendo a reboque as discussões ocorridas nos EUA sobre o filme. Esses debates devem se aquecer ainda mais quando a cerimônia da entrega do Oscar, para o qual o longa é indicado em seis categorias, for realizada em Hollywood, neste domingo 22.
Para alguns, Sniper americano conta a história de um moderno herói de guerra dos Estados Unidos. Para outros, o filme é a glorificação estúpida de um soldado com uma visão de mundo ingênua. Quem critica o atirador Chris Kyle, cospe em seu túmulo, afirmam os defensores do filme nos EUA. Os críticos, no entanto, o classificam como um patriota psicopata.
Para alguns, Sniper americano conta a história de um moderno herói de guerra dos Estados Unidos. Para outros, o filme é a glorificação estúpida de um soldado com uma visão de mundo ingênua. Quem critica o atirador Chris Kyle, cospe em seu túmulo, afirmam os defensores do filme nos EUA. Os críticos, no entanto, o classificam como um patriota psicopata.
Sniper americano é baseado nas memórias do soldado americano Chris Kyle, que entre 2003 e 2009 atuou em quatro missões na Guerra no Iraque e matou mais de 160 inimigos. Com isso, o franco-atirador, que proporcionava proteção a seus companheiros, com tiros certeiros à distância, se transformou numa lenda.
Nos EUA, o filme provocou uma "guerra de culturas". De um lado, políticos conservadores, como Sarah Palin e Newt Gingrich, defendem a direção de Eastwood, o chamando de um épico moderno tipicamente americano. Críticos de esquerda, como o cineasta Michael Moore e o diretor e ator Seth Rogen (A entrevista), afirmam que a vida de Kyle é tudo menos a história de um herói e que todo o rumor causado por Sniper americano se assemelha à propaganda nazista.
A maior parte dos críticos está mais propensa a concordar com o grupo mais à esquerda. Este foi o julgamento do correspondente nos Estados Unidos da revista alemã especializada em cinema Film-Dienst:
"Clint Eastwood sempre teve uma veia bastante patriótica. Conectada com o mito tão apregoado da violência como meio justificável contra injustiças e ameaças, seus filmes às vezes desaguam em dramas ideologicamente duvidosos de confrontos entre o bem e o mal. E assim é esta biografia tecnicamente perfeita, mas unilateralmente orientada e repetitiva, do 'franco-atirador mais letal da história militar americana'".
Sniper americano é um filme, segundo o crítico, "no espírito de George W. Bush e Dick Cheney, em que questões políticas têm, não por acaso, um papel marginal".
O debate sobre o novo filme de Clint Eastwood pode ser melhor compreendido a partir da análise do trabalho anterior do ator e diretor, de 84 anos, assim como o emprego excessivo da violência no cinema americano. Eastwood, um republicano declarado, sempre trabalhou com os temas violência, sociedade e guerra.
Após seu retorno, Kyle escreveu um livro contando suas experiências, que se tornou um best-seller. Ele chamava seus inimigos iraquianos de "o mal feroz e desprezível". Em outra passagem escreve: "Talvez a guerra não seja diversão, mas eu gostei". Dois anos atrás, Chris Kyle foi, ele mesmo, morto a tiros no Texas – por um veterano de guerra americano, que também serviu no Iraque e sofria de um transtorno pós-traumático.
Ele ganhou fama na década de 1960, como um ator dos westerns de Sergio Leone Por um punhado de dólares e Três homens em conflito. Ao atuar como o frio pistoleiro Joe, lançou as bases para o seu status atual de ator cultuado.
"Nos EUA, existe o mito nacional dos desbravadores de fronteira, ou seja, da fronteira para o oeste, que por muito tempo foi se expandindo, parcialmente sob uso de violência", diz Sven Kramer, que recentemente lançou um livro sobre violência no cinema. "As imagens relacionadas ao homem solitário que se afirma em um ambiente hostil fazem parte dos elementos básicos do imaginário americano."
Em Perseguidor implacável, o próprio Eastwood fez, em 1971, uma caça a um franco-atirador, como um policial cínico, cruel, mas altamente eficaz. Nos filmes posteriores, como O cavaleiro solitário, Os imperdoáveis ou Gran Torino, Eastwood interpreta protagonistas multifacetados que lhe renderam admiração para além do público conservador e afeitos ao cinema de ação.
Também em Sniper americano aparecem esses dois lados de Eastwood. Além de mostrar o tacanho e vingativo Kyle, o diretor não esconde que os soldados que retornam do Iraque carregam um fardo pesado. Eles são psicologicamente afetados pela guerra, como o próprio Kyle, ou tão traumatizados que eles próprios viram assassinos em seu país.
Mostrar esses dois lados é o que torna o filme algo sobre o qual vale a pena discutir. Isso também explica porque existem duas leituras para o filme nos Estados Unidos. Uma é a do filme de guerra, que propaga violência e vingança; a outra é a do filme antiguerras, que alerta para as consequências a longo prazo de uma guerra nos soldados.
O que Clint Eastwood, no entanto, não questiona, é se a ação dos Estados Unidos é justificável em países como o Iraque. E ainda outra grande questão é tratada em Sniper americano, mas não de forma crítica: o uso excessivo de armas de fogo entre os americanos.
Fonte: A Carta Capital
Fonte: A Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário