Analisando esqueletos de 314 pessoas que viveram na cidade inglesa entre os séculos 10 e 14, cientistas perceberam que lesões e fraturas eram mais comuns entre os mais pobres
Durante a Idade Média, a desigualdade social era tanta em Cambridge, no Reino Unido, que "deixou marcas" até mesmo nos ossos dos moradores da área, então uma pequena cidade provinciana. A descoberta é fruto de uma análise conduzida por cientistas da Universidade de Cambridge e foi publicada na última segunda-feira (25) no American Journal of Physical Anthropology.
Os pesquisadores examinaram ossadas de 314 indivíduos que viveram entre os séculos 10 e 14 e foram enterrados na região. O objetivo da equipe era coletar evidências de trauma esquelético nos restos mortais, que podem indicar o "nível de sofrimento" enfrentado na vida.
Para avaliar a condição dos esqueletos em relação à classe social, os arqueólogos consideraram corpos enterrados em três sítios arqueológicos diferentes: um cemitério paroquial para trabalhadores comuns, um "hospital" de caridade onde os enfermos e necessitados eram enterrados e um convento agostiniano que enterrava doadores ricos ao lado do clero.
Os pesquisadores catalogaram a natureza de cada quebra e fratura, classificando-as de acordo com o que poderia tê-las causado: acidente, lesão ocupacional ou violência. Segundo as análises de raios-x conduzidas, a equipe descobriu que 44% dos trabalhadores tiveram fraturas ósseas, em comparação com 32% daqueles no convento e 27% dos enterrados no hospital.
"Podemos ver que os trabalhadores comuns corriam um risco maior de ferimentos em comparação com os frades e seus benfeitores ou os internos mais protegidos do hospital", afirmou Dittmar. "Essas eram pessoas que passavam os dias trabalhando longas horas, realizando tarefas manuais pesadas. Na cidade, as pessoas trabalhavam em negócios e ofícios manuais, como ferrareiros e pedreiros, ou como trabalhadores em geral."
À época, Cambridge era principalmente uma cidade provinciana de artesãos, mercadores e fazendeiros, com uma população de 2.500 a 4 mil habitantes em meados do século 13 — e, embora, os mais pobres tenham sofrido com trabalhos braçais, a vida não era fácil para ninguém. O ferimento mais grave notado pelos especialistas, inclusive, foi observado em um frade.
O homem teve fraturas completas no meio de ambos os fêmures, que são os maiores ossos do corpo, situados nas coxas. De acordo com os cientistas, ferimentos do tipo são mais comuns hoje em dia, normalmente causados por automóveis.
"O que quer que tenha causado a quebra de ambos os ossos dessa maneira deve ter sido traumático e, possivelmente, a causa da morte", explicou Dittmar. "Nosso melhor palpite é um acidente de carroça. Talvez um cavalo tenha se assustado e [o frade] foi atingido pela carroça."
Alguns dos ferimentos foram infligidos por outras pessoas, como é o caso de outro frade que sofreu fraturas defensivas no braço e sinais de traumatismo craniano. Como explicam os arqueólogos, lesões esqueléticas relacionadas à violência foram encontradas em cerca de 4% da população, incluindo pessoas de todos os grupos sociais.
De forma geral, as fraturas foram mais comuns em restos mortais do sexo masculino (40%) do que feminino (26%) em todos os cemitérios. Entre os casos observados em mulheres, o que se destacou é o de uma idosa enterrada no terreno da paróquia que parecia ter sido vítima de violência doméstica ao longo da vida.
"Ela teve muitas fraturas, todas curadas bem antes de sua morte. Várias de suas costelas foram quebradas, bem como várias vértebras, sua mandíbula e seu pé", relatou Dittmar. “Seria muito incomum que todas essas lesões ocorressem como resultado de uma queda, por exemplo. Hoje, a maioria das mandíbulas quebradas vistas em mulheres é causada por violência praticada pelo parceiro íntimo.”
Fonte: Revista Galileu
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