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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Minha vizinha vai morrer

Será mais uma vítima da violência doméstica, do cinismo e da pouca importância que damos para a vida da mulher brasileira 

Minha vizinha vai morrer. Será mais uma vítima da violência doméstica, do cinismo e da pouca importância que damos para a vida da mulher brasileira. Ela berra, xinga, implora para o marido parar de bater. Ele para assim que ela e as filhas pequenas choram e saem gritando pelos corredores e escadas.
Minha vizinha vai morrer. Será mais uma vítima da violência doméstica, do cinismo e da pouca importância que damos para a vida da mulher brasileira. Ela berra, xinga, implora para o marido parar de bater. Ele para assim que ela e as filhas pequenas choram e saem gritando pelos corredores e escadas.
Não sei bem onde essa família mora, mas é perto, ouço os pratos quebrarem, móveis caindo e o choro dessa mulher e das suas pequenas filhinhas. Essa vítima é provavelmente da minha idade, imagino quem seja, vejo a tristeza nos encontros no estacionamento. O porteiro me disse que o pai do agressor é costa quente. Chove de polícia quando eles brigam. Todos nós já denunciamos à administração do condomínio. O agressor sei quem é, não olha nos olhos, sempre olha pro chão. Sempre corre pra algum lugar após bater na moça de olhos claros e tristes.
"1.314 mulheres mortas em 2019, uma a cada 7 horas, em bairros ricos, mais ou menos e pobres, e esse cenário tende a piorar, infelizmente. Torço para não encontrar qualquer dia desses com o pessoal do IML no elevador, vindo buscar o corpo da minha vizinha que tanto sofre"

Minha vizinha, infelizmente, pode ter o mesmo fim que a irmã do meu querido amigo santista teve, no último final de semana ela foi jogada embaixo de um caminhão. Ela morreu na hora, aos 38 anos, quase da minha idade, deixou três filhas, uma mãe e irmãos sem chão, sem vida, sem entender nada. Um ex-namorado que ninguém chegou a conhecer, teve a coragem de fazer o que fez. Hoje dorme numa cela fria e olha pra parede e não se arrepende do que fez.A minha vizinha parece que sabe que vai morrer. Me disseram que eles mudaram do condomínio, mas ontem dei de cara com ela na portaria, envergonhada, agora ela também anda de cabeça baixa, não fala com ninguém, não responde um bom dia. Descobri ontem que ela carrega um bebê de colo, pequeno, minúsculo, lindinho. Ele já sofre como as suas irmãs maiores.

Óh mundo cruel! Que ficou ainda mais fétido com a morte de uma outra mulher, que também morava pertinho de casa, estamos falando de um bairro de classe média, na zona oeste paulistana, onde supostamente o mundo é mais tranquilo, só que não, as minas morrem do mesmo jeito.

"O porteiro me disse que o pai do agressor é costa quente. Chove de polícia quando eles brigam. Todos nós já denunciamos à administração do condomínio. O agressor sempre corre pra algum lugar após bater na moça de olhos claros e tristes" 

Esse caso é triste, escandaloso, absurdo, após o Palmeiras vencer o meu Santos, no dia 30 de janeiro, na final da Libertadores, Érica, uma empresária jovem, de 34 anos, também quase da minha idade, mãe de gêmeos, foi tirar um barato, zuar, brincar com o marido corintiano, o Leonardo, de 34 anos. Ele não aguentou a brincadeira e a matou a facadas, simplesmente tirou a sua vida por isso, um absurdo e para piorar o pai do homicida, no dia do velório da palmeirense, invadiu o seu apto e roubou televisões, joias e mais uma vez aniquilou a memória da vítima com uma crueldade típica dos dias atuais. O assassino foi preso em flagrante e ainda disse que a mulher tentou matá-lo. O sogro da vítima é investigado por roubar. Falar mais o que…"

É o Brasil de Bolsonaro, 1.314 mulheres mortas em 2019, uma a cada 7 horas, em bairros ricos, mais ou menos e pobres, e esse cenário tende a piorar, infelizmente, qualquer dia desses torço para não encontrar com o pessoal do IML no elevador do prédio, vindo buscar o corpo da minha vizinha que tanto sofre.

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