Petistas que vão desde a filósofa e ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro Márcia Tiburi até o ex-governador Tarso Genro declararam apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos, do PSOL, em São Paulo. Para conter a "onda", a presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, já fala em usar o estatuto da sigla, que prevê expulsão
Ex-secretário de Transportes em duas gestões municipais do PT – as de Marta Suplicy e Fernando Haddad -, Jilmar Tatto não tem convencido parte dos petistas com sua pré-candidatura à prefeitura da capital paulista e, nas últimas semanas, o partido do ex-presidente Lula assiste a uma espécie de debandada em prol da pré-candidatura de Guilherme Boulos, do PSOL.
Tatto foi escolhido em maio como pré-candidato após uma votação apertada em um formato de prévias contestado contra o deputado federal Alexandre Padilha. Desde então, o PT vem tentando fortalecer o nome do ex-secretário, mas a confirmação da chapa com Boulos e Luiza Erundina, pelo PSOL, empolgou não só a militância petista não filiada como também filiados históricos do partido.
O ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-presidente da sigla, Tarso Genro, por exemplo, foi um dos que declarou apoio a Boulos e pediu, em entrevista, para que o partido abandone a candidatura de Tatto e apoie o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O mesmo fez a filósofa Márcia Tiburi, que concorreu ao governo do Rio de Janeiro pelo PT em 2018.
A “debandada” não parou por aí. André Singer, ex-porta-voz do governo Lula, Celso Amorim, ex-chanceler na mesma gestão e Marilena Chaui, que foi secretária de Cultura da gestão de Erundina (1989-1992), também declararam que vão de Boulos. Isso sem contar nomes históricos da classe artística ligados ao PT, como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Para conter essa onda pró-Boulos e firmar o nome de Tatto, dirigentes do PT já fazem ameaças veladas aos filiados. À Folha de S. Paulo, a presidenta da legenda, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que, contra esse movimento, pode ser usado o estatuto do partido – que inclui a expulsão -, sem citar, no entanto, que medidas exatamente poderiam ser tomadas.
“A filiação petista carrega consigo algumas responsabilidades, entre elas a de lealdade ao candidato do partido. Obviamente que o estatuto prevê medidas para casos em que isso não acontece”, declarou.
O coordenador da pré-campanha de Tatto e presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, foi na mesma linha. “Se aparecerem filiados da capital, expressões do partido aqui em São Paulo, aí vamos tomar providências com base no estatuto do PT. Comissão de ética é uma possibilidade”, disparou.
Apesar das afirmações, os dirigentes petistas acreditam que a situação possa ser resolvida na base da conversa e que, com o tempo e a entrada do ex-presidente Lula na campanha, Jilmar Tatto deve crescer e reconquistar o apoio não só da militância orgânica como também dos filiados.
“Boulos e Erundina são companheiros valorosos, não são os adversários da campanha do Tatto. Os principais adversários são o projeto genocida de Bolsonaro e a atitude privatista e elitizante de Bruno Covas e João Doria”, ponderou Padilha, que concorreu com Tatto nas prévias.
Impasse no RJ
Outra situação que tem rachado o PT está no apoio à candidatura do atual prefeito de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, Wagner Carneiro (MDB), conhecido como Waguinho.
A aliança com o emedebista foi selada em votação do Diretório Nacional do PT na última sexta-feira (7), após intensos debates, por 29 votos a 25 e 11 abstenções.
Waguinho é um apoiador declarado de Jair Bolsonaro e, inclusive, chegou a pedir votos para o capitão da reserva em 2018. A articulação para que o partido apoiasse o atual prefeito de Belford Roxo partiu, principalmente, do ex-presidente do PT no Rio de Janeiro, Washington Quaquá. Inúmeras correntes da sigla se posicionaram contra o acordo com o bolsonarista, mas a corrente de Quaquá acabou vencendo.
O acordo para a aliança com um bolsonarista levou seis ex-presidentes do PT a redigirem uma carta endereçada à Gleisi Hoffmann, pedindo para que a presidenta da sigla cancele o apoio.
“As resoluções de nosso VII Congresso e da direção partidária são inequívocas: nenhuma aliança pode ser estabelecida com o neofascismo, com os partidos e candidatos que o representam em qualquer espaço do território nacional”, diz a carta, assinada por Olívio Dutra, José Dirceu, José Genoíno, Tarso Genro, Ricardo Berzoini e Rui Falcão.
Fonte: Revista Forum
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