Na contramão da ausência na política e nos espaços de poder, mulheres negras se fortalecem para as eleições de 2020, com o desejo de disputar o executivo municipal em três grandes capitais brasileiras
Elas são 54 milhões de brasileiras, mas ainda não estão representadas nesta mesma proporção na política institucional. A ausência histórica de mulheres negras nos espaços de poder é resultado do racismo e do machismo, que tradicionalmente as afastam dos espaços de articulação da política partidária. De olho nas eleições 2020, elas têm se fortalecido para mudar o cenário e lançam pré-candidaturas para o executivo municipal nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador.
Na contramão da subrepresentação, a trajetória da deputada federal Áurea Carolina (PSOL) é um exemplo do caminho que mulheres negras têm trilhado para ocupar a política institucional. Em 2016, a cientista política e educadora social foi a vereadora mais bem votada de Belo Horizonte. Nas eleições de 2018, conquistou a vaga para a Câmara Federal com expressivo número de votos. Em junho, Áurea lançou sua pré-candidatura à prefeitura de Belo Horizonte, mostrando que tem construído uma participação marcante na política institucional.
Áurea avalia que o racismo estrutural atravessa todos os campos da vida social e ganha ressonância dentro dos partidos, mesmo os do campo progressista. Para a parlamentar, esse cenário dificulta o debate sobre questões raciais e de gênero, a participação das mulheres negras nos espaços de decisão partidária, consequentemente, a garantia de suas candidaturas e a distribuição justa dos recursos para as campanhas.
“Enfrentamos desafios diários nas nossas vivências como mulheres negras em uma sociedade que ainda atribui papeis específicos para nós. Antes de tudo, temos que trabalhar e cuidar das nossas famílias. O sistema político não nos dá condições de conciliar tantas coisas. Precisamos de ações afirmativas para ter igualdade de oportunidades”, negritou a deputada federal mineira.
Para a pré-candidata, esses problemas minam a força política das mulheres negras já que nem todas podem abrir mão das responsabilidades pessoais para entrar numa disputa eleitoral. “Nós precisamos contar nossas histórias e pensar nossas políticas, ou seguiremos em desvantagem. Precisamos de ações afirmativas que resolvam essas desigualdades para que a gente viva uma democracia de fato”, completou Áurea Carolina.
Na cidade do Rio de Janeiro, deputada estadual Renata Souza (PSOL) foi o nome escolhido para disputar a prefeitura. Renata nasceu no Complexo da Maré é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura, feminista e ativista dos direitos humanos. A parlamentar foi chefe de gabinete da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, e conquistou a vaga na Assembleia Legislativa do estado como a parlamentar mais bem votada do campo da esquerda.
“Minha candidatura expressa a real necessidade de mudança social a partir da representação das mulheres, negras e negros, que são maioria na sociedade, mas sempre foram alijados da política, dos espaços de poder e de decisão”, declarou Renata Souza em seu perfil nas redes sociais.
A capital ainda terá outra mulher negra como pré-candidata ao executivo da cidade do Rio, a deputada federal e ex-governadora do Estado, Benedita da Silva (PT). Benedita foi a única parlamentar negra a integrar a Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Com 78 anos de idade e 37 de carreira, ela coleciona cargos eletivos, no Executivo federal e estadual, sendo uma das mulheres negras mais bem sucedidas na política na história do país.
A disputa do campo progressista pela prefeitura de Salvador/BA tem duas mulheres negras: a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) e a major da Polícia Militar, Denice Santiago (PT).
Ausência em número
Estima-se que as políticas afirmativas para impulsionar a presença de mulheres nos cargos eletivos, como a destinação de cota obrigatória do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para campanhas femininas nas eleições de 2018, aumentou a bancada feminina em 50%, passou de 55 para 77 deputadas no Congresso Nacional. Deste universo, existem apenas 12 negras na Câmara e uma no Senado, representando 2,3% do total de parlamentares, de acordo com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No âmbito municipal, o cenário é mais diverso, mas ainda distante da paridade ideal entre homens e mulheres na política. Nas eleições municipais de 2016, as prefeitas pretas e pardas representaram 28,3% do total de candidatos eleitos, enquanto as vereadoras foram 37,7%, conforme levantamento da CNM (Confederação Nacional de Municípios). Em 2018, apenas uma mulher foi eleita para o executivo estadual a ex-senadora Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte.
Fonte: BHAZ
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