Análise de nódulo calcificado no pulmão bem preservado do bispo indica que grupo de bactérias causadoras da doença teria emergido há menos tempo do que se imaginava
Pesquisadores de instituições da Suécia e da Alemanha publicaram uma nova análise do genoma da Mycobacterium tuberculosis com base em restos encontrados em uma múmia bem preservada do século 17. O estudo foi publicado em 10 de agosto, na Genome Biology, e sugere que o patógeno da tuberculose pode ter emergido no período Neolítico, muito antes do que acreditavam os especialistas.
Desde sua descoberta, anunciada em junho de 2015, a múmia do bispo Peder Winstrup tem surpreendido cientistas por seu ótimo estado de conservação. De acordo com análises de tomografia computadorizada, o religioso falecido em 1679, aos 74 anos, tinha doenças como arterosclerose e artrose, e provavelmente foi vítima da "peste branca", uma pandemia de tuberculose que atingiu a Europa após o período medieval.
Quando cientistas do Museu de História Natural Sueco se depararam com pequenas calcificações no pulmão bem preservado da múmia, desconfiaram que a amostra poderia trazer novas informações sobre a Mycobacterium tuberculosis. “Suspeitamos que fossem resquícios de uma infecção pulmonar anterior”, diz Caroline Arcini, pesquisadora do museu e coautora da análise, em comunicado. “A tuberculose estava no topo de nossa lista de candidatos. A análise de DNA foi a melhor maneira de provar isso.”
Origens
Estima-se que mais de um quarto da população mundial tenha sido exposta ao complexo Mycobacterium tuberculosis, grupo de microrganismos que causam tuberculose. Por causa de sua distribuição global, acredita-se que essas bactérias tenham evoluído para infectar humanos há dezenas de milhares de anos, aproxidamente ao mesmo tempo em que os primeiros hominídeos emigraram da África para outros continentes. Mas não é isso que apontam estudos recentes.
Em 2014, um estudo de antigos genomas encontrados na América do Sul indicou que uma antiga linhagem da bactéria, semelhante à que circula atualmente, teria emergido há apenas 6 mil anos. Com a descoberta da múmia de Winstrup, seria possível encontrar mais informações que confirmassem ou não esse achado.
Usando diversos modelos de datação molecular, os cientistas descobriram que, de fato, os achados apontam para uma idade relativamente jovem do complexo Mycobacterium tuberculosis atual. “Um surgimento mais recente do complexo do patógeno da tuberculose é agora apoiado por evidências genéticas de várias regiões geográficas e períodos”, comenta Susanna Sabin, primeira autora do estudo. “É a evidência mais forte disponível até o momento de que esse surgimento foi um fenômeno neolítico.”
Agora, novas perguntas começam a ser feitas sobre o aparecimento do grupo bacteriano, cuja evolução pode estar ligada ao início do pastorialismo e a hábitos de vida sedentários humanos. A esperança é de que cientistas encontrem amostras de DNA ainda mais próximas do momento em que a bactéria atual teria surgido, ou até de um ancestral dela.
Fonte: Revista Galileu
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