“É preciso ficar atento, pois eles podem repetir o Equador”, alerta Simão Pedro, ex-secretário do setor em São Paulo
O setor funerário pode ser a próxima preocupação dos manauaras, que viram o número de óbitos por coronavírus saltar para 156, nessa segunda-feira (20). Isso porque o município possui apenas seis carros funerários à disposição da população mais pobre, o que pode fazer com que a espera de familiares pelo recolhimento de corpos seja longa.A informação é da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), que mantém o serviço SOS Funeral, direcionado à população que não pode pagar pelo serviço privado. O Brasil de Fato tentou contato com a secretária responsável pela pasta, Maria da Conceição Sampaio Moura, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
Para Simão Pedro, que foi secretário municipal de Serviços em São Paulo, entre os anos de 2013 e 2016, seis carros “é muito pouco”. Capital do Amazonas, Manaus é o sétimo município mais populoso do país, com uma população estimada de 2,1 milhões de habitantes, de acordo com a estimativa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em agosto de 2019.
“Na minha época em São Paulo, tínhamos uma média de 220 óbitos por dia e 55 veículos. Se eles (Manaus) não se preocuparem com isso, pode acontecer algo muito pior. É preciso ficar atento, pois eles podem repetir o Equador”, afirma.
O crescimento no número de mortos em Guayaquil, no Equador, por conta do coronavírus, disparou em março deste ano e a população local teve que esperar dias para que os corpos fossem retirados nos hospitais ou dentro das casas. As cenas de pessoas abandonando cadáveres nas ruas rodaram o mundo.
Pobreza e miséria
A falta de estrutura por impactar ainda mais, se considerarmos as condições de vulnerabilidade socioeconômica em que se encontra boa parte da população manauara.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, com dados de 2018, 47,6% da população de Manaus está abaixo da linha da pobreza, com rendimento mensal de no máximo R$ 420. Destes, 6,3% vivem na extrema pobreza, com menos de R$ 145 por mês – aproximadamente 130 mil pessoas. Se considerada a população do estado do Amazonas, o percentual de rendimentos abaixo da linha da miséria chega a 13,8%.
A taxa de ocupação das unidades de tratamento intensivo (UTIs) no estado tem rondado os 90% e a capital historicamente concentra internações de pacientes vindos do interior, de municípios que não dispõem de leitos.
No dia 16 de abril, um vídeo gravado no Hospital Estadual João Lúcio, de Manaus, circulou as redes sociais. Nas imagens, é possível ver ao menos 10 corpos em sacos, ao lado de pacientes e macas no chão, aguardando para serem removidos.
Serviço privado
Ao todo, 22 funerárias mantêm contrato com a Prefeitura de Manaus. O Brasil de Fato ligou em cinco agências. Os preços cobrados para transporte e sepultamento variam entre R$ 1.300 e R$ 2.400. As empresas consultadas não faziam apenas o serviço de traslado.
Em uma das funerárias, o gerente, que não quis se identificar, informou que pediu “reforço em outro município”. “Eu pedi ajuda para um amigo, ele trouxe mais dois carros aqui, porque o número de sepultamentos triplicou, não estamos dando conta mais”, explicou.
Boletim
No último domingo (19), a Fundação de Vigilância de Saúde (FVS) divulgou que o Amazonas chegou a 2.044 casos de contaminação por coronavírus e 182 óbitos, 21 mortes nas últims 24 horas.
Além de Manaus, outros 25 municípios possuem ao menos um caso de coronavírus. Dos 2.044 contaminados, 379 são profissionais da saúde de rede pública e privada. O estado está com quase 90% dos leitos ocupados e no último sábado, o governo amazonense admitiu que a estrutura será insuficiente para atender à população.
Fonte: Brasil de Fato
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