Reportagem da Folha de S.Paulo revela que empresas estão
comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no
WhatsApp e preparam uma grande operação para a próxima semana, que
antecede o segundo turno.
A prática é considerada ilegal, pois
caracteriza doação de campanha por empresas, proibida pela legislação
eleitoral, e não declarada.
Segundo a reportagem, cada contrato chega a R$ 12 milhões e entre as
empresas compradoras está a Havan, cujo dono faz campanha aberta em
favor de Jair Bolsonaro (PSL). Ele nega, porém, que tenha feito esse
tipo de contratação. Os contratos são para disparos de centenas de
milhões de mensagens.
Professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie, Diogo Rais
disse ao jornal paulista que a compra de serviços de disparo de
WhatsApp por empresas para favorecer um candidato configura doação não
declarada de campanha, o que é vedado. Embora não comente o caso
específico, ele afirma que esse tipo de prática pode caracterizar crime
de abuso de poder econômico e, se julgado que a ação influenciou a
eleição, levar à cassação da chapa.
De acordo com a Folha, empresas que apoiam Bolsonaro compram
um serviço chamado "disparo em massa", usando a base de usuários do
próprio candidato ou vendidas por agências de estratégia digital. A
legislação eleitoral proíbe compra de base de terceiros, e só permite o
uso das listas de apoiadores do próprio candidato, números cedidos de
forma voluntária.
Conforme a apuração da repórter Patrícia Mello Campos, quando usam
bases de terceiros, essas agências oferecem segmentação por região
geográfica e, às vezes, por renda. Enviam ao cliente relatórios de
entrega contendo data, hora e conteúdo disparado.
Quando a base é fornecida pela agência os preços variam de R$ 0,08 a
R$ 0,12 por disparo de mensagem para a base própria do candidato e de
R$ 0,30 a R$ 0,40. Nesse caso, muitos dados são obtidos de maneira
ilícita por empresas de cobrança ou funcionários de empresas
telefônicas. A Folha identificou quatro agências suspeitas de
fazer esse tipo de serviço. Nenhuma delas admitiu fazer esse tipo de
serviço. Nenhuma consta da prestação de contas do candidato do PSL.
Na prestação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consta apenas a
empresa AM4 Brasil Inteligência Digital, que recebeu R$ 115 mil para
mídias digitais. A empresa diz que não faz disparos automáticos e que os
grupos são criados organicamente por apoiadores voluntários do
candidato. Alega que mantém apenas grupos de WhatsApp para denúncias de
fake news, listas de transmissão e grupos estaduais chamados comitês de
conteúdo.
Segundo a reportagem, ex-funcionários e clientes dizem que a
AM4Brasil gera números estrangeiros automaticamente por sites como o
TextNow, usados para administrar grupos ou participar deles. Com códigos
de área de outros países, esses administradores escapam dos filtros de
spam e das limitações impostas pelo WhatsApp —o máximo de 256
participantes em cada grupo e o repasse automático de uma mesma mensagem
para até 20 pessoas ou grupos. Grande parte do conteúdo não é produzida
pela campanha, mas vem de apoiadores. A empresa nega que faça
segmentação de usuários ou ajuste de conteúdo.
Estimativas de pessoas que trabalham no setor sobre o número de
grupos de WhatsApp anti-PT variam de 20 mil a 300 mil, pois é impossível
calcular os grupos fechados.
Fonte: Congresso em Foco
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