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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Contra Bolsonaro, a versão "tiro, porrada e bomba" de Alckmin

Faceta bolsonarista do “picolé de chuchu” é a última cartada do tucano para bater o candidato do PSL, que só quer estar onde sempre esteve
No Brasil, a esculhambação geral é de tal monta que até um golpe de estado pode ser tosco o suficiente para, em tempo recorde, golpear os próprios golpistas. Parece ser o caso deste que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, ao que indica a periclitante situação dos arquitetos do impeachment fajuto.

Para manter-se na Presidência pela via legítima, seus candidatos estão obrigados a estratégias em que tudo precisa se encaixar à perfeição milimétrica, sob pena de o mínimo desarranjo fazer desabar o castelo de cartas marcadas.
No Brasil, a esculhambação geral é de tal monta que até um golpe de estado pode ser tosco o suficiente para, em tempo recorde, golpear os próprios golpistas.
Parece ser o caso deste que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, ao que indica a periclitante situação dos arquitetos do impeachment fajuto.
Para manter-se na Presidência pela via legítima, seus candidatos estão obrigados a estratégias em que tudo precisa se encaixar à perfeição milimétrica, sob pena de o mínimo desarranjo fazer desabar o castelo de cartas marcadas.
Passados dois anos da ópera-bufa dirigida por Eduardo Cunha, seu elenco encontra-se em boa parte encalacrado, protagonizando agora o que se chama de “A Maldição do Golpe”. Representante hors-concours do moralista sem moral, Aécio foi o primeiro a ser comido, na acepção do que é ser comido sendo tucano – ou seja, está livre, leve e candidato, mas converteu-se em abominável homem das Neves, um constrangimento ambulante até no mais poluto dos palanques. De presidenciável por excelência, sobra-lhe agora a candidatura ao foro privilegiado como deputado federal por Minas Gerais.
Enquanto a direita tradicional representada pelo PSDB votava com Temer e o Centrão, e claudicava no cortejo aos seus possíveis postulantes ao Planalto, sob suas barbas uma direita chucra fechava com a candidatura “antissistêmica” de Jair Bolsonaro (PSL). Finalmente no ponto, Geraldo Alckmin “perdeu o bonde”, segundo o presidente do instituto de pesquisas Vox Populi e colunista de CartaCapital Marcos Coimbra.
Em condição pedestre, viu-se emparedado por Lula e Bolsonaro. “Hoje só Alckmin poderia contrapor essa polarização”, diz um experiente marqueteiro político acostumado às disputas presidenciais. “Isso se ele não fosse o Alckmin, representante desse paulistanismo predador que sofre de fadiga de material.” Para o “Picolé de Chuchu”, fadiga dessa natureza levaria fatalmente ao derretimento.
Antes, a estratégia dos tucanos era vender um Alckmin moderado, o centro entre a esquerda e a direita “radicais”, atraindo os indecisos com medo da experiência exótica da ultradireita e os antipetistas menos furibundos. Em maio, a ideia era que já tivessem alcançado 4 pontos porcentuais sobre Bolsonaro no interior de São Paulo (onde a campanha se concentrara), atraindo o empresariado, o agronegócio e parcela dos setores insatisfeitos com o desempenho do candidato do PSL. “Talvez uma cara nova como Doria tivesse surtido efeito”, diz Coimba. “Mas Alckmin...”
Aqui, um parêntese: o marqueteiro de Geraldo Alckmin é o mesmo que elegeu João Doria Jr. – o jornalista Luiz Flávio Guimarães, cujo apelido, um tanto inadequado para o atual momento de sua carreira, vem a ser Lula. Ou Lulinha. Mais inadequado ainda é seu curriculum vitae: começou como voluntário em 1989, oferecendo-se para faz-tudo na campanha de rádio de seu homônimo famoso.

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Segue o jogo: finda a Copa do Mundo, Lula (o deles) contava já ter consolidado Alckmin como este “centro moderado”, com envergadura para pontuar no Nordeste. Como se sabe agora, faltou combinar com os russos, com os delatores da Odebrecht e com os investigadores do Rodoanel paulistano.
Além do prestigiado ex-secretário Laurence Casagrande Lourenço, preso há pouco mais de um mês, acusado de desvios e sobrepreços de 131 milhões de reais. Em depoimento à PF, a secretária de Casagrande contou ter triturado documentos. “É uma pessoa séria”, disse Alckmin desde um forró em Campina Grande, na Paraíba. Na ocasião, pesquisa espontânea do Datafolha registrava 0% de intenção de voto no tucano na Região Nordeste.
Valendo-se da blindagem que se acerca dos tucanos, Alckmin sempre entregou aos incautos a imagem positiva de um Maluf em negativo – não rouba, mas também não faz, o que para os padrões nativos parecia ótimo. A aliança do PSDB com Temer e a sequência de denúncias tornaram oca a imagem do Santo (a propósito, seu suposto codinome nos arquivos da Odebrecht).
Com a resiliência de Lula e Bolsonaro, derreteu também a estratégia de um “centro moderado” em que o Picolé de Chuchu fincasse o seu palito. “A direita tradicional está contaminada pelos descalabros de Temer, e não será o (candidato pelo MDB e ex-ministro da Fazenda) Henrique Meirelles que fará o papel de boi de piranha para que o PSDB triunfe. Ninguém combinou isso com ele”, diz Marcos Coimbra. “A esta altura está claro para a imensa maioria que Alckmin não significa mudança, e que essa mudança é PT ou Bolsonaro.”
Não há candidato hoje que trabalhe com a hipótese de Lula (ou Haddad) fora do segundo turno. Assim, a ordem do dia no front tucano é locupletar-se do arsenal autoritário de Bolsonaro, travestir-se do mesmo e tomar de assalto seu eleitorado. Se houve Lulinha Paz e Amor, preparemo-nos, pois, para algo como Geraldo Tiro, Porrada e Bomba.
“A saída para ele jamais deveria ser esta. Bolsonaro é para ser esquecido no canto do ringue. Alckmin deveria propor uma conversa séria sobre o Brasil, mas o marqueteiro abestalhado obriga o candidato a morder o Bolsonaro”, diz o experimentado marqueteiro político ouvido por CartaCapital. “A seguir esse caminho, desprezando aquele velho eleitor da social-democracia que um dia o partido representou, Alckmin não terá nenhuma chance de virar o jogo.”

De acordo com os últimos números de Ibope, Vox Populi e Datafolha, Geraldo Alckmin tem entre 3% e 7% de intenção de voto, atrás de Lula, Bolsonaro e Marina, em patamar próximo a Ciro Gomes. O candidato da extrema-direita chega a 17%, e perde somente para Lula. Diante da matemática desfavorável, setores do mercado fiéis ao tucanato passaram a flertar com Bolsonaro e seu economista Paulo Guedes.
Contudo, a aliança com os partidos do chamado Centrão (DEM, PP, PR, PRB e SDD) veio reacender a chama. Sobretudo em razão do tempo gratuito para propaganda na tevê que a campanha passa a dispor, tão extenso quanto a folha corrida dos novos aliados. “Certamente, o marketing terá de cuidar para melhorar a imagem do Centrão”, diz o estatístico Paulo Guimarães, reconhecido como “guru do DEM”, mas que durante 29 anos atendeu desde PSOL e PT até o PSDB.
Enquanto o marketing não opera esse milagre, busca-se temperar a imagem do Chuchu com uma dose de Bolsonaro. Para tanto, pôs-se à chapa a vice Ana Amélia, “senadora do relho” pelo PP, militante do MBL e famosa por ter confundido a rede de comunicação Al Jazeera com a rede terrorista Al-Qaeda. Enfim, o próprio Bolsonaro em versão transgênero.
A preferência por um nome do Nordeste sucumbiu à realidade do 0% de intenção de voto na região onde Lula bate nos 56%: o que não tem solução solucionado está. “Além de ser mulher, Ana Amélia tem grande força no Sul, onde Alckmin precisa combater a candidatura de Alvaro Dias”, aponta Paulo Guimarães.
“É uma escolha muito mais feliz do que a de Bolsonaro, cujo vice, general Mourão, não agrega nenhum novo setor, nem o eleitorado feminino.” Para um observador perspicaz das estratégias eleitorais, as escolhas dos vices de Alckmin e Bolsonaro inserem ambos no “campeonato mundial do conservadorismo tosco”. A ver quem sairá com o troféu.
É fato que o general Antonio Hamilton Martins Mourão não agrega novidade à chapa do capitão Jair Bolsonaro, a não ser na duplicação de sandices retóricas obradas por ambos. Esta semana, por exemplo, enquanto o general com ascendência indígena dizia que o Brasil herdara a “indolência” do índio e a “malandragem” do africano, o capitão que entende “indolência” por “capacidade de perdoar” propunha o ensino público a distância como “forma de combater o marxismo” e baixar os custos.
Fato é, também, que o postulante da extrema-direita nada precisa agregar para alcançar o segundo turno – quer apenas estar onde sempre esteve nos últimos meses, e por isso segue dizendo o que sempre disse. Desprovido de um marqueteiro oficial, conta com a ajuda de Fabio Wajngarten, empresário que se apresenta como “louco por televisão e estudioso do meio”. Aquele que esteve na bancada do Roda Viva entrevistando a candidata Manuela D’Ávila com questões como a “castração química” de estupradores.

O tempo de tevê de Jair Bolsonaro pode ser menor do que aquele que consagrou Enéas Carneiro (“Meu nome é Enééééas!!!”) em 1989. Com direito a 8 segundos, é 39 vezes menor que o latifúndio televisivo de Alckmin. Político com grande penetração nas redes sociais, Bolsonaro deve contar com a ajuda de seus entrevistadores “inimigos”.
Foi o que aconteceu na sabatina do GloboNews, semana passada, quando o candidato citou, em texto decorado, o editorial de Roberto Marinho em apoio à “revolução” de 1964. Ao término do programa, eis que emerge uma trôpega Miriam Leitão citando palavras sopradas de forma amadora no ponto eletrônico, dando conta de que os patrões já haviam se desculpado do ocorrido. Foi a festa na internet, com o “Mito” aboletado sobre a carne seca de Leitão.
A grande mídia tem dois alvos preferenciais entre os candidatos: Lula, um inimigo histórico, e Bolsonaro, desde que passou a concorrente direto dos tucanos. Ambos, no entanto, seguem na dianteira, como espantalhos dos avalistas do golpe – o que faz entendedores relativizarem o poder de influência que terão os programas eleitorais gratuitos, ainda mais repulsivos que a programação normal.
Se isso se verificar, tudo aponta para o embate final entre os dois espantalhos. Ressalvando sempre que, na esculhambação geral da República, tudo é possível para alterar o cenário que está posto – delações sem provas, “reportagens” bombásticas, o livro de regras jogado às traças, e outras fraudes ainda não imaginadas.

Fonte: A Carta Capital

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