Os brasileiros que assediaram e ridicularizaram uma moça na Russia não são monstros. São gente pequena a quem foi dado um pequeno poder para agirem como os fascistas que são.
Machismo e misoginia são relações de poder. Não há desculpas para esse tipo de comportamento, que muitas vezes pode passar despercebido mesmo para quem convive com os perpetradores. E ele não se restringe a coxinhas brasileiros na Russia.
Diferente da boa charge que circula agora nas redes sociais, mostrando os assediadores como trogloditas peludos, sua aparência real, apesar de terem de fato uma alma feia, é exatamente como a minha ou a sua. Gente normal até terem a oportunidade de exercer um poderzinho de forma nojenta e expor sua verdadeira cara.
Diferente da boa charge que circula agora nas redes sociais, mostrando os assediadores como trogloditas peludos, sua aparência real, apesar de terem de fato uma alma feia, é exatamente como a minha ou a sua. Gente normal até terem a oportunidade de exercer um poderzinho de forma nojenta e expor sua verdadeira cara.
Quando eu e minha companheira Maria Eugênia moramos nos EUA, na virada do milênio, nos tornamos amigos de um jovem engenheiro de petróleo. Por muitas vezes ele tomou café da manhã conosco. Visitamos a casa de seus pais na cidade de Lafayette, na Lousiana. Por duas semanas viajei ao Brasil e para um trabalho na California enquanto ele ajudou minha esposa a achar um carro para comprarmos. Quando voltamos ao Brasil tentamos manter o contato mas ele não respondeu mais os e-mails e quando ligamos foi bastante rude ao telefone. Ficamos tristes mas desencanamos. Poucos anos mais tarde, no auge do escândalo de Abu Ghraib, o Sérgio Gomes, da Oboré, montou uma espécie de galeria de fotos do horror perpetrado pelos soldados da “coalisão” no Iraque e no Afeganistão. Muitas das fotos ficaram célebres e usei algumas em minha tese de doutorado. Entre as que estavam no mural da Oboré, havia uma em que um garoto iraquiano segurava uma placa de papelão com um militar atrás rindo e fazendo o sinal de positivo. Na placa, em inglês, estava escrito: o Tenente Boudreaux matou meu pai e “catou” minha irmã. Eu gelei imediatamente e só então reparei bem no rosto do “brincalhão”. Era ele!
Coloque uma pessoa de alma pequena em posição de poder e veja o pior do ser humano. O que você acha que os brasileiros que assediaram a loira na Russia fariam com a menina se ela estivesse bêbada? Ou se eles tivessem fuzis e tivessem de “manter a ordem” numa comunidade ocupada? Ou pior, se estivessem sob uma corporação que passasse o pano nesse tipo de comportamento? No caso de Lance Cpl. Ted J. Boudreaux, o comitê de investigação montado (o famoso NCIS New Orleans, que tem até seriado de ficção na TV a cabo estrelado por um ator que já fez o papel de primeiro capitão da Enterprise) afirmou que não conseguiu o “documento original” e por isso não podia refutar a afirmação do soldado de que a imagem tinha sido manipulada e que o texto original era “totalmente benigno”. Depois de mais de um ano de apuração, em novembro de 2004, o processo foi enviado ao Major General John J. McCarthy que o arquivou por falta de provas.
Veja aqui matéria em inglês sobre o arquivamento do caso.
Fonte: Jornalistas Livres
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