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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Vencedores e derrotados


Em dezembro de 2011, o Banco Central Europeu liberou 498 bi de euros à combalida banca da UE, um condensado de interesses formado por banqueiros e acionistas bastante ativo no amplo ciclo de irresponsabilidades especulativas que precedeu à crise mundial de 2008. 

Esse mega financiamento destinado a evitar a falência da engrenagem que emprestou a quem não devia e investiu no farto repertório de temeridades disponíveis na praça global, teve juro de 1% ao ano e prazo de três anos para pagar. 

Na próxima 4ª feira, 29, o BCE abrirá novamente as torneiras para banhar a banca com outra chuva de dinheiro barato. Como da vez anterior, ninguém espera que a drenagem chegue à produção e ao consumo. A experiência da crise demonstra que o dinheiro entregue às casas financeiras fica entesourado nos BCs locais ou guarnece carteiras de títulos públicos confiáveis, que pagam bem mais que o custo do empréstimo, propiciando nova fonte de lucro fácil a quem navegou em todas as temeridades do fastígio rentista. 

Compare-se esse encadeamento com as contrapartidas draconianas impostas à Grécia em troca de uma fração do que foi e será liberado à banca (130 bi de euros). Ademais dos sacrifícios em espécie, na forma de empregos, empobrecimento, privatizações, orfandade e soberania, a Grécia ainda pagará um juro de 3,65% ao ano pelo suicídio induzido, três vezes e meia superior à taxa cobrada da banca. 

A esse juro e com desconto de apenas 53% sobre o passivo total - embora o valor de face dos títulos gregos já sofra desconto de até 70% no mercado, a dívida continuará impagável. Hoje ela equivale a 160% do PIB ou seja, a Grécia deve um ano e meio de toda a renda gerada no país.

Como o 'ajuste' empurra a economia para mais uma década de recessão ou crescimento residual, alcançar uma proporção dívida/PIB de 120% em 2020, como preconza a troika do euro, soa fantasioso. A doutrina neoliberal costuma criticar a ação do Estado na economia, sobretudo as políticas oficiais de crédito ao desenvolvimento, pelo risco inerente, acusam, de 'escolher os vencedores no lugar dos mercados", o que configuraria uma interferência política na proficiência do laissez-faire para consagrar os mais eficientes e punir a inoperância cara (geralmente fabricantes locais que tentam ganhar mercado de monopólios exportadores). 

No Brasil, a coalizão demotucana advoga, por exemplo, que a melhor salvaguarda contra essa 'distorção' seria decretar a extinção do BNDES, o maior banco de investimento do mundo ocidental, que, de fato, reduziu-se a um guichê de privatizações no governo FHC. O 'resgate' grego compromete essa narrativa ao demonstrar que o juiz neoliberal quando age não apenas escolhe vencedores, como traduz as custas do processo em um verdadeiro massacre dos derrotados.
Fonte texto: A Carta Maior

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