Relatório da ONU aponta desperdício de 931 milhões de toneladas de alimentos em 2019 e afirma que o problema não se restringe a países desenvolvidos
Estima-se que cerca de 690 milhões de pessoas tenham sido afetadas pela fome em 2019. Nesse mesmo ano, aproximadamente 931 milhões de toneladas de alimentos, o equivalente a 17% de toda a comida disponível para consumo, tiveram o lixo como destino.
Os dados são de uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentada nesta quinta-feira (4), que busca incentivar esforços globais para o cumprimento da meta 12.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): reduzir pela metade o desperdício de comida até 2030.
O Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da organização parceira WRAP, analisou as sobras alimentares em pontos de venda, restaurantes e residências, considerando as partes comestíveis e as não comestíveis, como ossos. De acordo com a pesquisa, o maior desperdício vem das casas, que descartam 11% do total de alimentos disponíveis na fase de consumo da cadeia de abastecimento. Para serviços alimentícios e estabelecimentos de varejo, as taxas são de 5% e 2%, respectivamente.
O documento revela que, em nível global per capita, os consumidores desperdiçam 121 kg de alimentos a cada ano, sendo 74 kg descartados em residências. No caso do Brasil, esse número cai para 60 kg de alimentos desperdiçados por pessoa no ambiente doméstico e, no país, 12 milhões de toneladas. "Durante muito tempo, presumiu-se que o desperdício de alimentos em casa era um problema expressivo apenas nos países desenvolvidos. Com a publicação do relatório Índice de Desperdício de Alimentos, podemos ver que as coisas não estão tão claras", avalia, em nota, Marcus Gover, CEO da WRAP.
Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, afirma que o impacto do desperdício de alimentos atinge pelo menos três esferas: a social, a ambiental e a econômica. Diante do cenário de crise climática, por exemplo, atribui-se até 10% das emissões globais de gases de efeito estufa a alimentos não consumidos, pensando nas perdas em toda a cadeia.
"A redução do desperdício de alimentos cortaria as emissões de gases de efeito estufa, retardaria a destruição da natureza, aumentaria a disponibilidade de comida e, assim, reduziria a fome e economizaria dinheiro em um momento de recessão global", diz Andersen. "Se quisermos levar a sério o combate à mudança climática, à perda da natureza e da biodiversidade, à poluição e ao desperdício, empresas, governos e cidadãos de todo o mundo devem fazer a sua parte".
Por isso, a ONU acredita que incluir o desperdício de alimentos na Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) do Acordo de Paris é um caminho para os países aumentarem a ambição climática e fortalecerem a segurança alimentar. Além disso, a fim de alcançar a meta 12.3 dos ODS, a organização ressalta que os governos precisam desenvolver uma melhor capacidade de monitorar o desperdício de alimentos.
Fonte: Revista Galileu
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