Cem grandes jornalistas
africanos, defensores da democracia e dos direitos humanos lançaram um apelo ao
presidente da Eritreia, Isaias Aferwerki. Numa mensagem de solidariedade com
todo o povo da Eritreia, o grupo pede autorização para visitar ativistas presos
no país.
Um
dos membros do grupo, o jornalista e ativista angolano Rafael Marques destaca
que essa iniciativa tem como propósito unir forças e vozes para combater os
abusos de direitos humanos que afetam os eritreus. Muitos dos presos políticos
estão há mais de uma década sem manter qualquer contato com a família.
“Artistas,
jornalistas e escritores foram colocados na prisão sem qualquer justificava.
Não sabemos nem as condições em que estão vivendo todos esses anos. É preciso
fortalecer esse movimento de solidariedade entre nós, africanos, para que
possamos lutar contras as injustiças que nos atingem”, disse o defensor de
direitos humanos ao Por dentro da África.
O
grupo que inclui escritores como Paulina Chiziane (Moçambique), Whole Soyinka
(Nigéria), Alain Mabanckou (Congo) e o ativista John Githongo (Quênia)
manifestou preocupação com o clima hostil que prevalece na Eritreia,
especialmente para jornalistas, opositores ao governo e ativistas dos direitos
humanos.
Com uma população de cerca de 5 milhões de habitantes, a Eritreia é um Estado de partido único que não realiza eleições legislativas desde a independência, em 1993. De acordo com a Human Rights Watch, o registro de direitos humanos do governo da Eritreia é considerado um dos piores do mundo. Como todas as mídias locais são de propriedade estatal, a Eritreia é classificada como a segunda pior liberdade de imprensa no Índice de Liberdade de Imprensa, atrás da Coreia do Norte.
Infelizmente, nestas áreas críticas, a Eritreia não acompanhou o ritmo das mudanças observadas noutros locais. Ao longo das duas últimas décadas, a Eritreia tem sido descrita como a sociedade mais fechada do nosso continente, uma situação lamentável para um país com um capital humano e um potencial tão ricos, com tanto para oferecer não só a África mas também ao mundo.
Sua
Excelência, o Presidente Isaias Aferwerki: Escrevemos para transmitir as nossas
mais sinceras felicitações pela normalização das relações diplomáticas com a
Etiópia. Este é um desenvolvimento muito apreciado por todos os africanos de
boa vontade.
Escrevemo-vos
na nossa qualidade de cidadãos de África para manifestar a nossa solidariedade
para com todo o povo da Eritreia. Isto inclui os muitos eritreus que vemos a
suportar todo o tipo de riscos e sofrimentos em busca de uma vida melhor fora
da sua terra natal. Reconhecemos que também nós somos oriundos de nações com
diferentes níveis de governação e desafios de desenvolvimento. Escrevemos-vos,
no espírito da solidariedade pan-africana, para procurar soluções comuns para
os nossos problemas comuns.
Os
muitos e díspares Estados-nação de África sofreram mudanças significativas e
diversas ao longo das últimas duas décadas. Hoje, muito mais africanos vivem em
liberdade do que sob repressão. É importante ressaltar que os países africanos
que fizeram mais progressos – incluindo atrair investimento e turismo – nos
últimos 25 anos foram aqueles cujos cidadãos gozam de maior liberdade de
expressão, imprensa e movimento, Estado de direito, um sistema judicial
independente e pluralismo político.
Confiamos
que, abrindo este canal de comunicação com Vossa Excelência, nos seja dada a
oportunidade de trabalhar convosco para restaurar o vosso país e o grande povo
da Eritreia ao seu legítimo lugar na família das nações africanas.
Particularmente
preocupante para nós é o destino de vários jornalistas e ativistas que
estiveram detidos durante longos períodos de tempo na Eritreia, a muitos dos
quais foram alegadamente negadas visitas regulares das suas famílias e entes
queridos.
Estamos igualmente desanimados
com o sofrimento de muitos milhares de africanos, incluindo alguns eritreus, que
se sentem compelidos a fugir dos seus países de origem em busca de uma vida
melhor para si próprios e para as suas famílias, arriscando a vida e os seus
membros e suportando privações e indignidades desumanas nos desertos e oceanos.
Muitos
destes concidadãos africanos encontram-se nas mãos vorazes de comerciantes de
escravos e traficantes de seres humanos modernos, fazendo com que alguns deles
acabem mesmo por ir parar aos mercados de escravos em lugares como a Líbia.
Muitos destes migrantes e refugiados pereceram no mar em busca de uma vida
melhor.
Nós,
africanos, somos abençoados com demasiadas coisas nos nossos países de origem
para que os nossos cidadãos sofram e sejam desvalorizados desta forma. Este
quadro sombrio precisa de mudar, e é neste espírito que dirigimos esta mensagem
de solidariedade a Vossa Excelência.
Pedimos
respeitosamente a Vossa Excelência que permita que uma delegação dos
signatários do presente documento visite a Eritreia e que nos dê a oportunidade
de nos encontrarmos consigo e com o seu governo, bem como com cidadãos comuns,
incluindo jornalistas, escritores e outras pessoas atualmente na prisão. Tal
como com o corajoso passo que deu para normalizar as relações com a Etiópia,
acreditamos que um gesto deste tipo contribuiria em muito para acabar com o
isolamento da Eritreia em relação à família africana em geral e poderia ajudar
a inaugurar uma nova era de prosperidade e liberdade para o seu povo. Seria uma
honra fornecer-lhe qualquer informação adicional que possa necessitar de nós e
aguardamos ansiosamente a sua resposta.
Fonte: Por dentro da África
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