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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Governo Macri já tenta jogar sobre Cristina a culpa por explosão de submarino

Versão argentina de "a culpa é do PT": investigação nem chegou ao fim e ministro da Defesa fala em "corrupção" e "material sem qualidade" do conserto
Duas semanas atrás, o presidente da Argentina, Maurício Macri, publicava no twitter uma frase em que tratava de acalmar os ânimos dos que estavam buscando culpados pela explosão do submarino ARA San Juan, desaparecido desde o dia 15 de novembro com 44 tripulantes a bordo. “Até que não tenhamos informação completa não temos que nos aventurar a buscar culpados. Primeiro temos que ter certeza do que aconteceu e por que aconteceu”, aconselhava.
Duas semanas atrás, o presidente da Argentina, Maurício Macri, publicava no twitter uma frase em que tratava de acalmar os ânimos dos que estavam buscando culpados pela explosão do submarino ARA San Juan, desaparecido desde o dia 15 de novembro com 44 tripulantes a bordo.
“Até que não tenhamos informação completa não temos que nos aventurar a buscar culpados. Primeiro temos que ter certeza do que aconteceu e por que aconteceu”, aconselhava.
No mesmo dia, o presidente interino do Senado, Federico Pineda, do mesmo partido de Macri, reforçava o pedido: “Na Argentina sempre há uma atitude permanente de jogar a culpa no outro sem saber quem é o outro”, disse Pineda. “Pode ter sido um acidente ou pode ter sido falha de manutenção, não sei, mas é preciso realizar uma investigação séria.”
Pois a investigação nem chegou ao fim e o governo argentino já encontrou o “culpado” pelo insólito desaparecimento do submarino, que comove os argentinos há um mês: a antecessora do presidente e atual senadora Cristina Kirchner, claro. Na noite de segunda-feira, mesmo admitindo não existir evidências claras, o ministro da Defesa, Oscar Aguad, afirmou haver suspeitas de corrupção no processo de reparação do ARA San Juan, feito pelo governo anterior.
“Houve uma denúncia por corrupção que foi arquivada sem investigação e que dava conta de algumas anomalias. O que posso comprovar é que o veículo tinha que ser consertado em dois anos e demorou cinco”, disse Aguad em entrevista ao canal televisivo Todo Notícias, onde reconheceu pela primeira vez que todos os tripulantes estão mortos.
O capitão havia relatado um defeito similar em uma viagem anterior, em setembro, quando pediu um novo conserto para o submarino em 2018
Segundo o ministro, há relatórios apontando que o material utilizado no reparo, entre 2008 e 2014, não tinha “qualidade”. Ao mesmo tempo, o ministro afirmou que “os trabalhos foram feitos”, que o superfaturamento e a reforma “são coisas distintas” e que o capitão havia relatado um defeito similar em uma viagem anterior, em setembro, quando pediu um novo conserto para o submarino em 2018. “Entrou água pelo snorkel, mas não atingiu as baterias. O capitão reportou como um inconveniente menor e redigiu um informe dizendo que ao regressar deveria se resolver o problema e outras avarias menores”, disse Aguad.
O ministro reservou mais petardos para Cristina, acusando-a de “estigmatizar as Forças Armadas e baixar os salários dos militares”. Questionado sobre o que o importa, ou seja, se o submarino estava em perfeito estado no dia 13 de novembro, quando deixou o porto austral de Ushuaia em direção a Mar del Plata e desapareceu, Aguad respondeu que “as evidências dizem que sim” e admitiu que podem ter havido erros por parte da Marinha.
A força não tomou nenhuma atitude ao ser informada, pelo comandante do submarino, da entrada de água por um canal de ventilação que atingiu o compartimento das baterias elétricas e produziu um princípio de incêndio. Houve pelo menos quatro comunicações entre o capitão e seus superiores falando da avaria. Mas, de acordo com a Marinha, o próprio comandante teria decidido seguir viagem.
Dez dias após o sumiço do submarino, finalmente veio ao conhecimento público a ocorrência de uma “anomalia hidroacústica consistente com uma explosão” na área do desaparecimento
“Entrada de água do mar pelo sistema de ventilação no tanque de baterias número 3 causou curto-circuito e começo de incêndio no local de barras de baterias. Baterias de proa fora de serviço. No momento em imersão, propulsando com circuito dividido. Sem novidades da tripulação, manterei informado”, foi o último comunicado do comandante, no dia 15 de novembro. A partir daí, o contato se perdeu.
No dia 23 de novembro, dez dias após o sumiço do submarino, finalmente veio ao conhecimento público a ocorrência de uma “anomalia hidroacústica” na área do desaparecimento, a 430km da costa argentina cerca de 1.300km ao sul de Buenos Aires. “Se trata de um evento anômalo, singular, curto, violento e não nuclear, consistente com uma explosão”, afirmou o porta-voz da Marinha, Enrique Balbi, em entrevista coletiva. Os familiares das vítimas entraram em desespero. “Estão todos mortos”, disse o pai de um dos tripulantes.

A revelação sobre a explosão ocorreu apenas cinco dias depois de o mesmo ministro da Defesa que agora quer jogar a culpa nas costas de Cristina “tranquilizar” os parentes das vítimas via twitter, com uma notícia que se comprovou falsa. “Recebemos sete sinais de chamadas por satélite que poderiam vir do submarino San Juan. Estamos trabalhando arduamente para localizá-lo e transmitimos a esperança às famílias dos 44 tripulantes: que em breve possam tê-los em seus lares.”

Apesar da declaração de Macri sobre “não buscar culpados”, tanto a mídia quanto os macristas nas redes sociais apontaram o dedo para Cristina Kirchner desde o começo, desencavando um vídeo em que a ex-presidenta fala, em 2011, após o conserto, que o submarino ARA San Juan iria durar 30 anos.

Seis anos se passaram desde então. Cristina K. está fora do poder há dois. E a manutenção do submarino, foi feita? O próprio presidente Macri declarou aos familiares dos tripulantes que o submarino estava “em boas condições” quando submergiu.

Até agora, Cristina Kirchner não se pronunciou sobre o assunto. Sua ex-ministra da Defesa, Nilda Garré, defendeu o conserto feito. “Foi deixado como novo. Mudaram o motor, os geradores, as 960 baterias, trocaram as tubulações. É um submarino com tecnologia dos anos 1980, mas foi deixado como novo. O conserto não só passou todos os testes em 2013, como depois navegou três anos seguidos”, disse Garré, acrescentando que os reparos foram supervisionados por técnicos da Alemanha, país onde o submarino foi fabricado.
De quem é a responsabilidade pelo acidente, afinal? Enquanto não se chega a uma conclusão, mais fácil é apelar para a versão argentina de “a culpa é do PT”.


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