Abaixo, a entrevista.
Fredrik Reinfeldt entra no saguão do Parlamento sueco com os passos determinados de um gladiador a caminho da arena de leões esfomeados. Vai enfrentar a sabatina mensal do Frågestund (”Hora das Perguntas”), quando o primeiro-ministro se expõe a quarenta minutos de fogo inimigo para responder a questões dos parlamentares sobre os rumos da Suécia sob a sua liderança.
”Você tem dez minutos”, me avisa no saguão a assessora do primeiro-ministro, Roberta Alenius, dando o sinal para a entrevista com Reinfeldt.
Líder do Partido Moderado (Moderata Samlingspartiet), Fredrik Reinfeldt tornou-se primeiro-ministro da Suécia aos 41 anos de idade, em 2006, quando uma aliança de quatro partidos de centro-direita desalojou do poder a coalizão comandada pelos social-democratas.
De pé na ante-sala do plenário do Parlamento, com fisionomia austera, Reinfeldt falou deste reino onde os políticos ocupam o poder antes exercido pela monarquia, mas não levam vida de príncipe.
A vida dos políticos suecos, sem luxo nem privilégios, obedece a algum tipo de código de conduta moral?
FREDRIK REINFELDT: Eu diria que sim. A Suécia é um país onde não existe o alto grau de desigualdade social que se vê em outros lugares, e este é um aspecto que valorizamos enormemente em nossa sociedade. Por esta razão, buscamos líderes políticos dos quais se possa dizer que são ”um de nós”, e não ”acima de nós”. Este é um ponto básico do pensamento social sueco, que a mim também agrada. Quero ser um indivíduo entre outros indivíduos, e não alguém tratado como uma pessoa extraordinária. O senso de igualdade entre as pessoas se reflete na alma sueca, no sentimento sueco de identidade nacional, e naquilo que desejamos que a Suécia seja como nação. Eu seria duramente criticado, assim como qualquer outro político, se houvesse a percepção de que vivo uma vida de luxo, inteiramente diferente da vida dos cidadãos comuns.”
Qual é a origem deste sistema de valores sueco?
FREDRIK REINFELDT: A democracia tem raízes profundas na Suécia. Os políticos compreendem que não estão aqui para se tornarem ricos ou enriquecer suas famílias, nem para criar condições de vida favoráveis para alguns. Estou aqui para realizar reformas e fazer deste um país melhor, de tal maneira que as pessoas digam ”ele está me ouvindo, está resolvendo meus problemas”. Do contrário, os eleitores darão seu voto a outra pessoa. Não vejo isso como um problema. Também acho bom poder continuar a cuidar das coisas cotidianas que costumava fazer antes de ocupar o posto de primeiro-ministro. A diferença é que hoje em dia tenho, é claro, um aparato de segurança em torno de mim. Mas continuo a cuidar da rotina das atividades pessoais do dia a dia, como qualquer cidadão.
É verdade que o senhor passa as próprias camisas pela manhã, como faz a maioria dos suecos?
FREDRIK REINFELDT: Sim. Não todas as manhãs, porque geralmente passo de uma só vez uma quantidade de camisas suficiente para toda a semana. Mas lavo e passo minhas próprias roupas.
O senhor também cozinha todas as noites?
FREDRIK REINFELDT: Sim, cozinho para mim e também para meus três filhos, quando estão em minha casa (Fredrik Reinfeldt é divorciado da mulher, a também política Filippa Reinfeldt). Não há nada de estranho nisso, é o que fazem todos os suecos quando voltam do trabalho.
O senhor tem fama de ser maníaco por limpeza. Ainda limpa a própria casa?
FREDRIK REINFELDT: Tenho dois filhos que são alérgicos a poeira. A necessidade de limpar bem a casa tornou-se uma questão de saúde para meus filhos. Tenho ocasionalmente um serviço de limpeza básica na residência oficial, mas cuido eu mesmo da maior parte da limpeza da casa no dia a dia. Embora não gaste mais tantas horas nessa tarefa como gastava antes de me tornar primeiro-ministro, quando passava a maior parte do domingo fazendo uma grande faxina.
Por que considera importante o senhor próprio cuidar da limpeza?
FREDRIK REINFELDT: Gosto de fazer, e além do mais é algo que todos fazem na Suécia, não apenas eu. Limpar a casa me dá a sensação de ter controle sobre a minha própria vida e de cuidar das crianças, o que me faz bem. É um momento relaxante, que procuro tornar agradável. Enquanto limpo, uso fones de ouvido para ouvir música ou acompanhar partidas do meu time de futebol, o Djurgården. A sensação de andar pela casa no fim de uma faxina, enquanto as crianças dormem tranquilamente, é fantástica.
Qual é a sua melhor dica de limpeza?
FREDRIK REINFELDT: A parte de trás das camisas sociais velhas é excelente para polir espelhos e vidros de janelas.
Qual é a sua tarefa preferida?
FREDRIK REINFELDT: Lavar a roupa. Antes, eu preferia limpar a casa. Hoje em dia, gosto mais de lavar as roupas. Isso me dá a sensação de estar preparado.
Muitas pessoas também o vêem na fila do supermercado.
FREDRIK REINFELDT: Faço minhas próprias compras, como qualquer pessoa. Embora acompanhado por seguranças.
Como fazer tudo isso e ao mesmo tempo liderar um país?
FREDRIK REINFELDT: As tarefas domésticas não tomam tanto tempo assim. Acho que é importante estar integrado à vida familiar, apesar de ter este tipo de trabalho na política. É uma questão de organização. Dedico uma pequena parte do meu dia aos afazeres da casa, e em seguida retorno à leitura de documentos ou aos telefonemas que necessito dar. É perfeitamente possível combinar o trabalho profissional com o trabalho doméstico.
Qual é a sua opinião sobre o sistema de países como o Brasil e outras nações, em que políticos possuem privilégios de uma classe à parte?
FREDRIK REINFELDT: Em primeiro lugar, é muito importante dizer que respeito o fato de que o Brasil é uma democracia e que portanto cabe àqueles que são eleitos pelo povo responder a este tipo de questão. Mas para dizer o óbvio, se eu fosse o ministro da Fazenda do Brasil e tivesse que fazer um corte de gastos, eu saberia exatamente por onde começar. Porque quando um político precisa cortar gastos, é muito importante mostrar que ele próprio dá o exemplo. No nosso país, as pessoas estão sempre atentas aos custos da burocracia e da classe política. É necessário que haja equilíbrio. Se um político quer manter a confiança dos eleitores, deve estar próximo das pessoas.
Fonte: Blog Diário do Centro do Mundo
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