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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sokol: “defendemos que o PT rompa a aliança nacional com o PMDB”


Marcus Sokol é candidato a presidente do PT pela tendência “O Trabalho”. Fundador do PT e da CUT, Sokol lutou contra a ditadura, e hoje é um ds críticos ferrenhos da política de alainças adotada pelo PT. Em entrevista exclusiva ao Escrevinhador, afirmou: “Como vimos na Venezuela, no Equador e na Bolívia, para não buscar exemplos mais longínquos, buscando apoio no povo é possível, com recurso a uma Constituinte, começar uma transformação que faça a maioria social, que aparece como minoria parlamentar, transformar-se em maioria institucional (parlamentar).”
Neste domingo, mais de 800 mil petistas estão aptos a votar, na eleição interna que escolherá a nova direção do partido. Confira a entrevista de Sokol.
1) Dos seis candidatos à presidência do PT, cinco (entre eles, o senhor) fazem críticas abertas à atual direção do partido, e se colocam à esquerda de Rui Falcão, que representa o CNB (antigo “Campo Majoritário”). O PT foi para a direita? Virou um partido preocupado só com eleições?
Não é difícil criticar a atual direção da qual o presidente é Rui Falcão. Aliás, a sua própria campanha defende “mudanças”! Esse é o sentimento amplamente dominante fora da cúpula do PT. Já colocar-se à sua esquerda pode ser mais complicado. Por exemplo, o candidato Paulo Teixeira, atual secretário-geral, tem a mesma posição de Rui na questão-chave do leilão de Libra, lesivo à soberania nacional, na minha opinião (e da FUP e da CUT e muitos setores), e as vezes está até à direita de Rui, como numa entrevista de candidato ao “Sul 21” onde defendeu como modelo para o país nada menos que a “democracia”… dos EUA!
Então, se se atentar que nem tudo que reluz é ouro, esquerda no PT, no caso, fica mais fácil entender as pressões à direita sobre o PT. E nem sempre por preocupação exclusivamente eleitoral: os articuladores da “aliança nacional com o PMDB” não são ignorantes que não saibam que Cabral tiraria votos de nossa campanha no Rio de Janeiro, Sarney no Maranhão, Renan em Alagoas, Barbalho no Pará, enfim, a lista a longa.  A preocupação destes articuladores é, na verdade, com o tipo de governo que tem em vista, sem verdadeiras reformas sociais e democráticas, uma realidade questionada de certo modo nas jornadas de junho, e cada vez mais desgastada como “perspectiva” dentro do próprio PT.
2) O senhor representa a corrente “O Trabalho”, de origem trotskista e que reivindica o socialismo. O PT ainda é socialista? É possível ser socialista e, ao mesmo tempo, depender de doações de empreiteiras e grandes empresas nas eleições?
“O Partido dos Trabalhadores nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da atual ordem econômica, social e política. Nasce, portanto, da vontade de emancipação das massas populares”, diz o Manifesto de Fundação do PT. Nós estamos plenamente identificados com esse documento que, 30 anos depois, não foi revogado.
Agora, a primeira parte da pergunta, é feita legitimamente até por petistas e simpatizantes, aí já vão uns 20 anos (afinal, esse padrão de financiamento não começou ontem). Mas nós consideramos que o impulso fundador do PT não se esgotou, apesar da montanha de graves problemas, distorções, e mesmo sinais de degeneração.
Veja a Ação Penal 470. A cúpula do partido não reagiu, nem para defender os próprios companheiros (pra não falar de uma certa esquerda que quis tirar uma casquinha), quando o que está em questão é o PT. Tanto pelo lado da evidente degeneração do financiamento pelo caixa dois (que a cúpula do PT confessou), quanto pelo lado do ataque do STF. Ele não quer condenar o caixa dois, parte justamente do padrão de financiamento eleitoral em que navegam todos os partidos, pois condenaria o sistema institucional do qual o STF também faz parte. Então, o que o STF quer é apenas acuar o PT, condenando-o por crimes não provados (desvio de dinheiro publico e formação de quadrilha), que esses sim dão cadeia.
Esse imbróglio provocou uma aceleração do questionamento dentro do PT: de que serve conviver com essas instituições, até quando vamos fazer o seu jogo?
Não é a toa que a bandeira da Constituinte volta com força (nós colocamos em primeiro lugar na nossa chapa), lembrando que, já antes de junho, o PT lançou a reforma política ligada a uma Constituinte exclusiva, onde o financiamento empresarial das campanhas eleitorais é um dos nós. Questão que ganhou força quando Dilma, reagindo às manifestações, propôs um Plebiscito pela Constituinte para fazer a reforma política (da qual recuou depois que o PMDB sabotou).
De fato, um partido socialista, grande ou pequeno, não sobreviveria a um longo período de adaptação a esse padrão de financiamento eleitoral, que é um dos eixos de sustentação do balcão de negócios mal-cheiroso do “presidencialismo de coalizão”. Para o PT, o “presidencialismo de coalizão” pode ser uma armadilha mortal. E a Constituinte é necessária para sair dessa armadilha, assim como para proceder a realização das aspirações de justiça social e soberania nacional do povo – como a reforma agrária, a reestatização das empresas privadas, o fim da ditadura da dívida através do superavit primário -, presentes na fundação e vivas na base do partido.
O paradoxo é que a contradição do financiamento, entre outras contradições do PT nos governos, é mais evidente para muito mais gente, hoje, do que antes da eleição de Lula. O que pode ser um “pedágio” histórico, ou uma tragédia também histórica, dependendo do desenlace!
3) O que deve mudar na política de alianças do PT? O partido deve romper com o PMDB? É possível governar em minoria no Parlamento?
Defendemos que o PT rompa a aliança nacional com o PMDB, no 1º turno e no 2º turno (que é quando se fazem os acordos de co-governo), aliança que não dá votos nem permite que o PT governe realmente, como se vê em varias questões, das 40 hs ao marco regulatório da internet, passando pela reforma política, a reforma agrária etc. tudo o que PMDB sabota.
Defendemos uma nova política de alianças que, a partir de uma plataforma popular de reformas sociais e nacionais,como as já citadas, integre o PCdoB e setores de partidos como o PDT e o PSB, formando um governo que dialogue realmente com as organizações do movimento popular e democrático, a CUT, o MST e várias outras.
É claro que haverá resistência dos interesses contrariados ancorados nas instituições do Estado, da grande propriedade conectada aos centros do imperialismo mundial, mas, justamente, toda situação mostra a urgência, desde as jornadas de junho, de reformar o sistema institucional, reformar o Estado de cabo-a-rabo, daí a necessidade da Constituinte.
Como vimos na Venezuela, no Equador e na Bolívia, para não buscar exemplos mais longínquos, buscando apoio no povo é possível, com recurso a uma Constituinte, começar uma transformação que faça a maioria social, que aparece como minoria parlamentar, transformar-se em maioria institucional (parlamentar).
No Brasil, as regras absurdas – a desproporção do voto (1 eleitor em SP = 11 em Rondonia), o financiamento empresarial, o voto uninominal, além da oligarquia antidemocrática do Senado – fazem com que o PT, mesmo elejendo três presidentes, não passe de 17% do Congresso, e com a esquerda não chegue a 25%. Ou seja, que não governe sem compor com adversários. Isso é o presidencialismo de coalizão, isso tem que mudar!
4) As manifestações de junho parecem ter colocado o PT na defensiva. Amplos setores, nas ruas, encamparam um discurso de rejeição aos partidos políticos. Como reverter esse quadro, e como dialogar com esses novos (?) movimentos que foram pra rua?
A questão maior é o PT assumir a luta pela Constituinte para reformar as instituições do Estado, e destinar o Orçamento para os serviços públicos demandados nas ruas (hoje, a prioridade absoluta é o superávit primário para pagar a dívida). E se desvencilhar das velhas raposas e políticos desprezados nas ruas.
Acrescento apenas que a tentativa da cúpula do PT de “virar a página” na AP 470 teve mais este efeito desastroso: nas ruas, boa parte não via diferença entre o PT (e a esquerda)  e o resto dos partidos, muitos citavam os dirigentes do chamado mensalão que “nem vcs defenderam”!
5) Quais os grandes acertos dos governos de Lula e Dilma? E quais os maiores erros?
Para não ser longo: a política de recuperação do salário mínimo (74% real) e o reconhecimento da soberania da Bolívia sobre o gás, nos acertos, e, entre os erros, a contra-reforma da previdência, o abandono da reforma agrária, ao que acrescento a participação quase 10 anos na equivocada Minustah (ocupação do Haiti por mandato da ONU, proposta pelos EUA).
Vemos aí o que o movimento popular conquistou nestes governos, ou se apoiando neles, dentro e fora do país – coisa que o grande patronato e o capital internacional não perdoam nem esquecem – assim como as expressões da busca desses governos de coalizão se compor, e não romper com as exigências do grande capital nacional e internacional.
6) O modelo lulista (com aposta em políticas distributivas e no incremento do mercado interno – mas sem tocar nas estruturas da terra, da comunicação e dos bancos) está esgotado, como dizem alguns? Qual deve ser a plataforma de Dilma para um eventual segundo mandato? 
“Esgotado”, historicamente, estava no dia da 1ª posse!
Veja o caso Eike Batista, da falida OGX, e a fabricação dos “campeões nacionais”, na verdade, uma tentativa impossível no século XXI de inventar uma “burguesia nacional” por cima, sem romper com a hegemonia política, econômica e militar estadunidense neste continente, e sem apostar de fato no mercado interno de massas. Pois este é fundo da manutenção das estruturas citadas. Enquanto que as melhorias havidas no plano do mercado interno, que nunca foram completamente aceitas pelos donos das estruturas, no máximo foram toleradas, agora são colocadas em questão nas condições da crise mundial do sistema capitalista que persiste e vai estreitando as margens de manobra de todos os governos.
No continente, vemos isso com clareza, até golpes de Estado reacionários voltaram a ser patrocinados. No Brasil, vemos as exigências contra os bancos públicos, contra o mercado de trabalho “rigido” e pela privatização da infraestrutura, aparecer nos “relatórios do FMI” que voltam às manchetes da imprensa, com apoio no coro da oposição orquestrada pelos grandes proprietários, representados também dentro da própria coalizão de governo.
Falamos sério quando propomos ao partido levantar para a disputa de 2014: Constituinte Por Terra Trabalho e Soberania. Por isso, como candidato a presidente (110), peço o voto na chapa CTTS para o Diretório Nacional – 210, e nas varias chapas estaduais – 410.
Fonte: Blog O Escrevinhador

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