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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O lado B da austeridade

Ao administrar grandes superávits, a Alemanha prejudica o crescimento e o emprego no mundo. 

Os alemães estão furiosos com o Departamento do Tesouro dos EUA, cujo Relatório Semestral sobre Economia Internacional e Políticas Cambiais diz algumas coisas negativas sobre como a política macroeconômica alemã afeta a economia mundial. As autoridades alemãs dizem que as conclusões do relatório são “incompreensíveis”, o que é bizarro, porque são absolutamente claras.
Oh, e sim, os EUA espionaram de forma indesculpável Angela Merkel, mas aquilo não tem nada a ver com isso, e qualquer pessoa que traga o assunto à baila demonstra sua falência intelectual. E falar francamente sobre as políticas econômicas alemãs não o torna antialemão ou antieuropeu: mais uma vez, qualquer pessoa que tente escapar à substância da discussão e levante esse tipo de acusação na verdade aceitou esse fato. Então, sobre a discussão. Nesta página há uma breve história da Zona do Euro, contada através de dois países, Alemanha e Espanha.
A criação da Zona do Euro foi seguida pelo surgimento de enormes desequilíbrios, com vastas quantidades de capital a fluir dos países centrais para os periféricos. Então houve uma “parada súbita” de fluxos privados, o que forçou os periféricos a eliminar os déficits de conta corrente, embora com o processo desacelerado pela provisão de empréstimos oficiais, principalmente mediante empréstimos entre bancos centrais. A notícia realmente ruim para a periferia é até agora o ajuste ter ocorrido principalmente por meio de economias deprimidas, em vez de pela competitividade recuperada, por isso a contrapartida do “progresso” para a Espanha é um desemprego de 25%.
Normalmente, você esperaria que o ajuste fosse mais ou menos simétrico, com países com superávits reduzindo-os, enquanto os países com déficit reduziam os mesmos. Mas isso não aconteceu, o que é muito ruim. Ainda estamos em um mundo governado por uma demanda inadequada, muito sujeito ao paradoxo da frugalidade, em que a decisão das pessoas de poupar mais prejudica a economia. Ao administrar grandes superávits inadequados, a Alemanha prejudica o crescimento e o emprego no mundo. Os alemães podem não entender, mas é macroeconomia básica.
Você poderia argumentar que não é culpa do governo alemão que ele tenha superávits, mas estaria errado (já caí nessa armadilha, mas reconheci o erro). Por um lado, a Alemanha perseguiu a austeridade fiscal, apesar de sua posição de credor, contribuindo para um endurecimento geral das políticas na Zona do Euro. É claro que não espero que as autoridades alemãs admitam haver algo de verdade no que diz o Tesouro. Elas não são boas em macroeconomia como nós a entendemos; suas opiniões parecem ser de que todo mundo deveria ser igual à Alemanha e ter grandes superávits comerciais. Mas o Tesouro apenas afirmou o óbvio e verdadeiro.


Em um post recente, Mike Konczal disse a maior parte do que deve ser dito sobre as fontes subjacentes da complexidade da Lei de Acesso à Saúde, que por sua vez armou o cenário para os atuais problemas técnicos. Basicamente, o Obamacare não é complicado porque os programas de Previdência Social têm de ser complicados: nem a Seguridade Social nem o Medicare são complexos. Como escreveu Konczal, ele é complicado porque restrições políticas tornaram irrealizável um sistema simples de um só pagante.

Esteve claro o tempo todo que a Lei de Acesso à Saúde monta uma espécie de dispositivo Rube Goldberg: um sistema complexo que no final deveria mais ou menos simular os resultados do pagante único, mas mantendo as companhias de seguros privadas na mistura e contendo o volume total de gastos do governo através de análises de situação financeira dos usuários. Isso não o torna irrealizável: os intercâmbios estaduais funcionam, e o sistema de saúde provavelmente será reparado, antes que tudo entre em ação. Mas tornou muito mais provável uma estreia fracassada.
Por isso Konczal está certo ao dizer que os problemas de implementação não revelam problemas na ideia do seguro social: revelam o preço que pagamos por insistir em manter as companhias de seguros na mistura, quando elas têm pouca utilidade.
Isso quer dizer que os liberais deveriam ter insistido no pagante único ou nada? Não. O pagante único não aconteceria, em parte por causa do poder do lobby das seguradoras, em parte porque os eleitores não teriam aprovado um sistema que retirasse sua cobertura existente e a substituísse por uma desconhecida. Sim, o Obamacare é de certa forma um sistema estranho, mas se foi o necessário para cobrir os não segurados, que seja.
Fonte: A Carta Capital

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