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segunda-feira, 25 de março de 2019

Por que o ciclone de Moçambique não despertou a comoção da imprensa internacional?

A passagem do ciclone Idai deixou rastro de destruição jamais visto no Hemisfério Sul. Moçambique, Malawi e Zimbábue foram os países africanos atingidos pela fúria da natureza. Pera, natureza?

Pessoas estão ilhadas, sem comida, roupas, teto. Apenas em Moçambique, pelo menos 700 cidadãos morreram em um cenário onde autoridades locais sequer fazem ideia da quantidade de desaparecidos. Filipe Nyusi, presidente moçambicano, teme que o número de óbitos passe de mil.
A passagem do ciclone Idai deixou rastro de destruição jamais visto no Hemisfério Sul. MoçambiqueMalawi e Zimbábue foram os países africanos atingidos pela fúria da natureza. Pera, natureza?
Pessoas estão ilhadas, sem comida, roupas, teto. Apenas em Moçambique, pelo menos 700 cidadãos morreram em um cenário onde autoridades locais sequer fazem ideia da quantidade de desaparecidos. Filipe Nyusi, presidente moçambicano, teme que o número de óbitos passe de mil.

 “Foi terrível. O que me impressionou foi que eu passei lá três dias depois do ciclone e não tinha um bombeiro na rua, um policial. Não tinha exército. Não tinha ninguém orientando as pessoas. O povo de Beira está jogado à própria sorte”, conta Miguel, brasileiro que sobreviveu ao desastre.
Aqui pra nós, desde quando a natureza é racista? Não é. Autoridades, comoção na TV. Você sabe de uma hashtag? Mudou o avatar no Facebook? Não? Claro, o ciclone destruiu países africanos. Em um mundo que ainda acredita que a África é um país, não causa espanto algum a ausência quase completa de mobilização para salvar vidas.
O escritor José Eduardo Agualusa disse que Moçambique não pode arcar com o ônus de um problema que não tem participação ativa. Para o angolano, “países como Moçambique não contribuíram para o aquecimento global. Não têm indústria, não têm agricultura intensiva”.
Ele, que o ao lado do moçambicano Mia Couto fazem de tudo para chamar a atenção de nações endinheiradas do Ocidente (entre elas o Brasil) acrescenta, “acho que com países como os EUA ou a China não se põe a questão de ajudar Moçambique; é quase uma indenização. Esses países têm obrigação de reparar o que fizeram. Moçambique é uma vítima neste contexto, uma vítima absoluta. Isto tem de ser parte da discussão. Não estamos a falar de ajuda. Portugal não faz o favor de ajudar Moçambique. Portugal tem obrigação de reparar os danos que causou. Mas muito mais obrigação tem a China, que até está presente em Moçambique”, declarou ao PÚBLICO.

Moçambique se tornou independente de Portugal apenas em 1975. Foram mais de 4 séculos de domínio luso no país africano. Não existem dados precisos, mas acredita-se que em um ano, entre 15 e 20 mil escravizados deixaram a costa moçambicana. O país representou 5% do comércio comandado pelos portugueses. A colonização impactou na infraestrutura e índices de desenvolvimento.
Moçambique é o nono país com menor índice de desenvolvimento humano (IDH) do mundo (0,437 valores). Está na 180.ª posição entre 189 países, de acordo com relatório global do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
“Falamos de um legado e esse legado é ideológico. Acabou a escravatura e o trabalho forçado, mas ficou uma mentalidade, e uma forma de submissão que é transmitida intrinsecamente de geração em geração — e isso até hoje, para determinados setores sociais, ainda existe. A submissão não desaparece em 40 anos, a colonização mental não desaparece em 40 anos. Há sempre sequelas. Ao nível da mentalidade, de pensar, de sentar: a maneira como a pessoa [se] senta, anda…”, diz ao PÚBLICO a historiadora moçambicana Benigna Zimba.

A citada herança colonial reflete na passividade do resto do mundo ao olhar para a África. Há alguma semanas, uma escola desabou na Nigéria deixando mais de 100 crianças soterradas. Passou ao largo da comunidade internacional.
O Idai destruiu o lar de mais de 600 mil crianças desabrigadas. O que mais preocupa são as condições precárias dos sobreviventes. A Beira – região mais afetada, convive com o risco de um surto de cólera. A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e da Crescente Vermelha (IFRC, na sigla em inglês) expressou em comunicado a preocupação com a intensificação de casos em Moçambique.
“Alguns casos de cólera já foram relatados em Beira com um aumento no número de infecções por malária entre as pessoas ilhadas pelas inundações”.
Três dias depois do pedido formal de ajuda à comunidade internacional protocolado pelo governo de Moçambique, Donald Trump deu orientações para tropas norte-americanas. O Comando Norte-americano para África (AFRICOM) vai liderar os esforços na terras africanas.
Jair Bolsonaro (PSL) conversou por telefone com o chefe de estado moçambicano. O presidente do Brasil, país com a segunda maior população de negros do mundo, prestou solidariedade e, segundo ele, ofereceu ajuda no que for necessário. “Nos colocamos à disposição no que for possível. [Eu] me solidarizo com o povo do Zimbábue e Malawi, também atingidos pelo ciclone”, declarou o mandatário no Twitter.

Além de Moçambique, no Malawi, cerca de 56 pessoas morreram e no Zimbábue, outras 259 mortes até o momento.
Fonte: Hypeness

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