O recente massacre de 50 fiéis muçulmanos em
duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, é a última confirmação de que a
supremacia branca é um perigo às sociedades democráticas
ao redor do planeta.
A despeito da insinuação do presidente Donald Trump de que o terrorismo nacionalista branco não é um problema grave, dados recentes das Nações Unidas, da Universidade de Chicago e de outras fontes mostram o contrário.
A despeito da insinuação do presidente Donald Trump de que o terrorismo nacionalista branco não é um problema grave, dados recentes das Nações Unidas, da Universidade de Chicago e de outras fontes mostram o contrário.
À medida que mais e mais
pessoas abraçam uma perspectiva mundial
xenófoba e anti-imigrantes, alimentam a hostilidade e a violência
voltadas àquelas consideradas “forasteiras” –seja pela religião, cor da pele ou
origem nacional.
A maior parte do mundo ocidental –da
Suíça e Alemanha até os Estados Unidos, Escandinávia e Nova Zelândia– têm
testemunhado uma forte tensão nacionalista que
infecta a sociedade nos últimos anos.
Conduzidos pelo medo quanto à perda
da primazia branca, nacionalistas brancos creem
que a identidade branca deve ser o princípio organizador da sociedade
ocidental.
“Todas as pessoas no mundo podem ter
o seu próprio país, exceto as pessoas brancas,” disse William Daniel
Johnson, do American Freedom Party (Partido da
Liberdade Americana), ao Chicago Sun Times após o ataque na Nova
Zelândia. “Deveríamos ter etno-estados brancos.”
No ano passado, nacionalistas brancos mataram pelo menos 50 pessoas nos EUA. Todos os perpetradores de violência extremista letal no país em 2018
tinham ligações com grupos nacionalistas brancos
Ao pesquisarmos para o nosso próximo
livro sobre o extremismo –nossa
área conjunta de especialização acadêmica–
descobrimos que os crimes de ódio têm crescido lado a lado à propagação global
do nacionalismo branco. Ataques racistas a refugiados, imigrantes, muçulmanos e judeus estão
aumentando no mundo inteiro num nível alarmante.
Acadêmicos que estudam a
internacionalização de crimes de ódio chamam este perigoso fenômeno de “transnacionalismo violento”.
Na Europa, a violência branca parece
ter sido desencadeada pelo
súbito aumento, em 2015, do número de refugiados que fugiam da guerra na Síria
e em outras partes do Oriente Médio.
Ultranacionalistas em todo o
continente –inclusive políticos nos
mais altos escalões do poder–
usaram a onda de migrações como evidência do iminente “genocídio cultural” das
pessoas brancas.
Esta tendência internacional
perturbadora, em sua encarnação moderna, nasceu nos Estados Unidos.
Desde os anos 1970, uma pequena
facção vociferante de supremacistas brancos norte-americanos têm
procurado exportar sua ideologia de ódio.
Racistas confessos como o líder da Ku Klux Klan David
Duke, o fundador da Aryan Nations (Nações Arianas) Richard Butler e o
autor extremista William Pierce acreditam
que a raça branca está sob ataque no mundo inteiro por
uma invasão cultural de imigrantes e pessoas negras e mestiças.
Os Estados Unidos estão se
diversificando, mas continuam a ser 77% brancos. Os supremacistas brancos, contudo, há muito
argumentam que as mudanças demográficas do
país levarão a um extermínio da raça e
cultura brancas.
A “alt-right” (direita
alternativa ou extrema-direita) –um termo abrangente que descreve o movimento
supremacista branco moderno online– usa a mesma linguagem. E tem expandido esta
perspectiva mundial xenofóbica do século 20 para caracterizar refugiados,
muçulmanos e progressistas como uma ameaça, também.
Líderes da extrema-direita como
Richard Spencer, Jared Taylor e o
editor do site neonazista The Daily Stormer, Andrew Anglin, também usam
as redes sociais para compartilhar sua ideologia e recrutar
membros mundo afora.
Eles acharam uma plateia mundial de
supremacistas brancos que, por sua vez, também usam a internet para
compartilhar suas ideias, encorajar a violência e difundir seus crimes de ódio no mundo
inteiro.
“O ódio que levou à violência em
Pittsburgh e Charlottesville está encontrando novos adeptos ao redor do mundo,”
disse Jonathan Greenblatt, da
Anti-Defamation League (Liga Anti-Difamação), uma entidade de defesa das
liberdades civis, ao USA Today após o ataque na Nova Zelândia. “De fato, parece
que este ataque não teve apenas a Nova Zelândia em foco; houve a intenção de
ter um impacto global.”
Sabemos que o ódio aos muçulmanos do
alegado atirador das mesquitas na Nova Zelândia era inspirado pelo nacionalismo
branco norte-americano –ele mesmo confirmou isso no twitter.
“O ódio que levou à violência em
Pittsburgh e Charlottesville está encontrando novos adeptos ao redor do mundo.
Parece que este ataque não teve apenas a Nova Zelândia em foco; houve a
intenção de ter um impacto global”
Seu “manifesto”
online inclui referências a conflitos culturais que o autor acreditava que
levariam, ao fim e ao cabo, os Estados Unidos a se dividir em orientações
étnicas, políticas e raciais mais para a frente.
O alegado agressor também
escreveu que apoia o presidente Donald Trump “como
um símbolo da identidade branca renovada.”
Trump e outros políticos de
extrema-direita, como a candidata à presidência da
França Marine Le Pen e o líder da oposição holandesa Geert Wilders, têm colocado a culpa pelos
problemas reais, próprios da vida moderna – progressiva instabilidade
econômica, crescente desigualdade e decadência da indústria–
nos imigrantes e negros.
Essa narrativa tem adicionado
mais hostilidade à atual tendência de intolerância em sociedades cada vez mais
multiculturais como os EUA. Crimes de ódio contra muçulmanos, imigrantes e
negros vem crescendo nos EUA desde 2014.
Em 2015, o Southern Poverty
Law Center documentou 892 crimes de ódio.
No ano seguinte, foram 917 crimes de ódio. Em 2017 –o ano em que Trump assumiu
o poder, alimentando o sentimento nacionalista com promessas de construir muros,
deportar mexicanos e banir muçulmanos– os EUA assistiram a 954
ataques de supremacistas brancos.
Um deles foi um embate
violento entre manifestantes e nacionalistas brancos acerca da retirada de uma estátua confederada em
Charlottesville, Virginia. O protesto de 2017 “Unite the Right” (Unir a Direita), que matou uma pessoa e
feriu dezenas delas, amplificou as ideias dos modernos nacionalistas brancos nacional e mundialmente.
Líderes da
extrema-direita usam as mídias sociais para compartilhar sua ideologia e
recrutar membros. Eles têm encontrado uma plateia mundial de supremacistas
brancos que também usa a internet para compartilhar suas ideias, encorajar a
violência e difundir crimes de ódio
No ano passado, nacionalistas brancos
mataram pelo menos 50 pessoas nos Estados Unidos. Suas vítimas incluem 11 fiéis
de uma sinagoga em Pittsburgh, dois
consumidores idosos negros num estacionamento do supermercado
Kroger no Kentucky e duas
mulheres que praticavam ioga na Flórida.
Os anos de 2015, 2016 e 2018 foram os
anos mais mortíferos dos Estados Unidos em relação à violência extremista desde 1970,
segundo a Anti-Defamation League.
Todos os perpetradores de violência
extremista letal nos EUA em 2018tinham ligações com grupos
nacionalistas brancos. Isso transformou 2018 em “um ano particularmente ativo
para assassinos extremistas de direita”, diz a Anti-Defamation League.
O terror nacionalista é um perigo à
segurança interna dos EUA e, como mostram as evidências, uma ameaça de terror
mundial que põe em risco a própria natureza da sociedade democrática global.
Art Jipson é professor associado de Sociologia na
Universidade de Dayton
Paul J. Becker é professor Associado de Sociologia na
Universidade de Dayton
Fonte: Socialista Morena
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