A juventude, energia e negritude de Jean-Michel Basquiat são elementos que têm tudo a ver com 2018.
Durante visita guiada nesta sexta-feira (13/07), o curador holandês radicado no Brasil Pieter Tjabbes ressaltou que o artista está em alta e suas obras são muito requisitadas em todo mundo, por isso o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) demorou dois anos para conseguir trazer as peças para o Brasil.
Durante visita guiada nesta sexta-feira (13/07), o curador holandês radicado no Brasil Pieter Tjabbes ressaltou que o artista está em alta e suas obras são muito requisitadas em todo mundo, por isso o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) demorou dois anos para conseguir trazer as peças para o Brasil.
Nova Iorque, Roma, Milão, Londres, Frankfurt, Paris e agora quatro cidades no Brasil, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte são lugares que fizeram retrospectivas sobre o artista recentemente. Em cartaz na capital mineira de sábado (14/07) até 24 de setembro, a mostra é composta por mais de 80 obras neoexpressionistas do pintor norte-americano de ascendência afro-caribenha que atuou por um breve período durante a década de 1980. Chegando à relevância na cena artística nova-iorquina já aos 19 anos, Basquiat morreu por overdose aos 27 anos de idade.
Segundo contou Pieter, Basquiat sempre foi muito curioso e sabia pouco de muitos assuntos. Aos 7 anos, por exemplo, foi atropelado e ficou hospitalizado durante um mês. Para distraí-lo e ajudar o filho a entender o processo de recuperação pelo qual seu corpo passava, a mãe de Basquiat lhe deu um exemplar de Gray’s Anatomy, clássico da anatomia humana. O livro teve grande impacto no seu trabalho futuro, que frequentemente conta com elementos do corpo humano.
Basquiat também gostava de homenagear músicos e esportistas negros, usar símbolos como os bíblicos e os dos hobos – norte-americanos desempregados itinerantes e sem-teto cujos símbolos alertavam sobre as cidades e pessoas que poderiam oferecer abrigo ou perigo a outros viajantes –; referências a mitos históricos e desenhos infantilizados, considerados a forma mais pura de fazer arte. O artista explicava em entrevistas que “pelo incrível que pareça” ele conseguia desenhar, mas ele lutava contra isso para manter os traços o mais simples possível.
Jean-Michel fez parte de um movimento que buscava trazer de volta a pintura, a emoção, a imersão do artista na obra, o espirrar de tintas. Então sua intensidade, combinada à sua juventude, faz com que o trabalho seja mais atual hoje do que há 30 anos. A geração millennial, que planeja sua vida ao redor de objetivos e atividades distintas, valoriza mais a experiência do que a estabilidade, que cresceu com a espontaneidade das redes sociais, possui expansividade mental parecida com Basquiat.
Se o nova-iorquino, mesmo depois da fama e fortuna, continuou a utilizar materiais descartados em suas obras, deixando-as propositalmente rudes, a arte atual resgatou as zines e as batalhas de MC realizadas embaixo de viadutos. A cena cultural de Belo Horizonte, assim como em outras zonas urbanas, tem abraçado as pixações, que compõem as fachadas do badalado Benfeitoria, na rua Sapucaí, e do popular Teatro Espanca!, na Rua Aarão Réis. Ocupar a cidade é o mais atual dos lemas, e nada mais urbano do que um artista oitentista nascido nas pixações de metrôs
Outra atualidade é a questão racial. Basquiat era o único artista plástico negro da cena nova-iorquina, condição que fazia com que dentro das galerias ele fosse exaltado, mas ao mesmo tempo, quando ía para casa, não conseguisse com que um táxi parasse na rua. Há um quadro seu, que não faz parte da exposição do CCBB, que retrata a violência policial norte-americana baseado no caso de um amigo que foi morto por espancamento. Em tempos de #BlackLivesMatter, a voz de Basquiat talvez seja mais contemporânea agora, no futuro, do que em seu próprio tempo.
Fonte: O Beltrano
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