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sexta-feira, 6 de julho de 2018

O que Embraer e Boeing levam com a criação de duas empresas em parceria

Acordo prevê que 80% da divisão de aeronaves comerciais da empresa brasileira seja vendida para a americana


Na quinta-feira (5), a americana Boeing e a Embraer anunciaram em uma nota conjunta os termos de um acordo para a criação de duas “joint ventures”, ou empresas em parceria. Os nomes não foram especificados.

Uma das novas empresas se originaria do braço da Embraer dedicado à aviação comercial. A Boeing pagaria US$ 3,8 bilhões para controlar 80% dessa companhia, que foi avaliada em US$ 4,75 bilhões no acordo.
Na quinta-feira (5), a americana Boeing e a Embraer anunciaram em uma nota conjunta os termos de um acordo para a criação de duas “joint ventures”, ou empresas em parceria. Os nomes não foram especificados.

Uma das novas empresas se originaria do braço da Embraer dedicado à aviação comercial. A Boeing pagaria US$ 3,8 bilhões para controlar 80% dessa companhia, que foi avaliada em US$ 4,75 bilhões no acordo.

Ao final do processo, a Boeing passaria, portanto, a controlar a maior parte do que é hoje a divisão comercial da Embraer. Ela é responsável por cerca 60% das vendas da companhia brasileira. As áreas de jatos executivos e de defesa são responsáveis por 25% e 13% de sua receita respectivamente, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo.

O anúncio conjunto afirma também que uma outra joint venture, focada na área de defesa, seria criada. Ele traz, no entanto, menos informações sobre ela - o valor e a distribuição do controle acionário não foram especificados. 
As companhias assinaram um memorando sobre os planos para a transação, e dizem que esperam que esta seja finalizada em entre 12 e 18 meses.

Há, no entanto, espaço para que o acordo seja barrado. Apesar de não ser uma estatal, a Embraer tem participação do governo em sua estrutura acionária. Este mantém a “golden share”, um mecanismo que lhe dá o poder de vetar decisões estratégicas.

O governo atual já se mostrou simpático à transação. Mas é possível que ela se torne tema das eleições presidenciais de outubro de 2018, e que o próximo presidente se contraponha a ela.

Apesar de não ser uma estatal há mais de 20 anos, a Embraer é a terceira maior exportadora do país, e é encarada como uma “joia nacional” do ponto de vista de tecnologia e faturamento.

Informações sobre a transação vêm sendo divulgadas desde o final de 2017. O movimento se dá em um contexto no qual tanto Embraer quanto Boeing tendem a enfrentar concorrência mais acirrada em seus mercados.

O QUE É A EMBRAER 


Foi criada pelo governo militar em 1969, como estatal, e foi privatizada em 1994, durante o governo de Itamar Franco. A empresa é especializada em aviões de entre 70 e 130 passageiros.

Segundo seu relatório anual relativo a 2017, a empresa entregou naquele ano 101 aeronaves comerciais e 109 executivas. Ela teve receita líquida de US$ 5,839 bilhões.

Os papéis da empresa são negociados em bolsa, e não há um controlador majoritário. O governo mantém 5,37% das ações da Embraer por meio do BNDESPar, a unidade de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Outra parcela de 6,71% das ações é do Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Uma parcela de 12,29% fica com o fundo americano Oppenheimer, e 6,46% com a gestora de investimentos escocesa Baillie Gifford. Outros 69,16%, com mais de 37 mil acionistas minoritários, entre pessoas físicas, jurídicas e investidores institucionais.

O QUE É A BOEING 


A empresa foi fundada em 1916 nos Estados Unidos, e em 1997 se fundiu com a também americana McDonnell Douglas. Ela é especializada em aviões com a partir de 130 passageiros, um mercado que disputa com a europeia Airbus.

O relatório anual da companhia relativo a 2017 afirma que entregou 763 aeronaves comerciais e 170 para uso militar. A receita líquida foi naquele ano de US$ 8,191 bilhões.

O contexto da transação A criação das joint ventures tem paralelo com um movimento similar das principais concorrentes de Boeing e Embraer em seus respectivos mercados, a europeia Airbus e a canadense Bombardier. No início de julho, a Airbus finalizou a compra do programa de aeronaves série C da Bombardier, focada na produção de aeronaves menores.

Para atingir este mercado continuar e competindo, “a Boeing teve que escolher entre começar do zero ou fazer uma parceria. Ela já tinha tentado entrar várias vezes nesse mercado [de aviões menores], mas ele se mostrou muito específico”, afirma em entrevista ao Nexo o professor de estratégia do Insper, Sérgio Lazzarini.

Com a joint venture, a Embraer teria, por sua vez, acesso a mais compradores e fornecedores. “O arqui-inimigo Bombardier se associou a uma empresa grande, o que acontece comigo [com a Embraer] se eu continuar independente? Vou ter a mesma capacidade? Essa é a lógica do mercado global”, diz o professor.

Uma reportagem do jornal britânico Financial Times traz uma avaliação similar. Ela afirma que, atualmente, Airbus e Boeing possuem um duopólio no setor de aeronaves de passageiros de grande porte. As compras de produtoras de aviões menores pode vir a fazer com que esse duopólio se estenda também a esse outro setor.

Como ficariam as novas empresas 


Pelo anúncio conjunto de Embraer e Boeing, a nova empresa a ser criada se integraria completamente à cadeia de produção e fornecimento da companhia americana, mas seria tocada por gestores brasileiros no Brasil. Eles ocupariam os cargos de presidente e diretor executivo, que seriam, no entanto, apontados pela Boeing.

Em entrevista ao site da revista Veja, o presidente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, afirmou que os funcionários do braço dedicado à aviação comercial da companhia seriam integralmente transferidos para a joint venture. 

Ele disse que as fábricas Faria Lima e EDE (Embraer Divisão de Equipamentos), que ficam em São José dos Campos, a de Taubaté, de Évora, em Portugal, e de Nashville, nos Estados Unidos, ficariam com a joint venture.

Não houve nenhum anúncio sobre possíveis transferências de força de trabalho e fábricas de um país para outro. 

De acordo com a Folha de S. Paulo, ainda não está claro o que será feito dos US$ 3,8 bilhões que seriam pagos pela empresa americana. Mas é possível que parte do valor seja reinvestido na nova empresa, e outra parte, embolsada pelos acionistas da Embraer.

A divisão focada em defesa O setor de defesa da companhia tem várias parcerias com a Força Aérea Brasileira, e é um campo mais delicado. Em dezembro de 2017, durante as primeiras discussões sobre a transação, o ministro da Defesa Raul Jungmann afirmou: 

“Não podemos transferir o controle acionário da Embraer para não transferir também o controle de decisões estratégicas. (...) Somos favoráveis a qualquer tipo de associação que beneficie a empresa, mas esse coração de tecnologia está relacionado à soberania nacional e nenhum país abre mão disso.”

Segundo informações do Financial Times, o governo brasileiro vem insistindo no estabelecimento de uma golden share que garantiria controle sobre os negócios do setor de defesa. 


Há poucas informações sobre o que se planeja para a empresa que seria criada com foco neste setor sensível. Mas, em entrevista à Folha, o presidente da Embraer Paulo Cesar Souza e Silva deu indícios de que a costura garantiria maior controle brasileiro.

Ele afirmou que a divisão da joint venture não está definida, mas que é provável que, nesse caso, seu funcionamento seja o oposto da empresa comercial, garantindo mais poder para a Embraer. O controle ficaria com a empresa brasileira, e a Boeing seria acionista minoritária. 


A nota conjunta de Embraer e Boeing afirma que esta joint venture se dedicaria especialmente a desenvolver mercados para a aeronave de transporte militar KC-390, da Embraer. 

Souza afirmou que o objetivo da empresa brasileira com o negócio é obter mais compradores para o KC-390 -o mercado militar é de difícil acesso.
Fonte: Nexo Jornal

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