Não obstante as elevadas expectativas depositadas e os elogios continuados entre analistas de mercado e na mídia especializada, os resultados alcançados pela equipe econômica ao longo dos dois anos em que ela foi coordenada pelo ministro Henrique Meirelles foram profundamente decepcionantes.
Não conseguiu evitar que o PIB em 2016 registrasse uma das maiores quedas da história nem que em 2017, mesmo partindo de uma base deprimida por um ano de estagnação e dois de recessão aguda, ele crescesse apenas 1%. Para 2018, as expectativas de expansão têm recuado continuamente e os investimentos que poderiam impulsioná-la, após avançar timidamente no segundo semestre de 2017, voltaram a se contrair.Esquecendo os reiterados anúncios de que a retomada estaria próxima, o governo agora justifica a evidente estagnação da economia em razão da incerteza provocada pelas eleições, como se elas não estivessem previstas há anos, e pela recente paralisação dos caminhoneiros, como se ela não tivesse sido fruto da política de preços dos combustíveis definida por ele próprio. Ainda, fala da necessidade de criar as bases para o crescimento como se tivesse acabado de chegar ao poder.
Obviamente, as desculpas não conseguem mascarar o fato de que a taxa de desemprego, ao invés de cair como prometido após o impeachment e reforçado após a entrada em vigor da reforma trabalhista em novembro de 2017, continuou crescendo, e hoje existem mais de treze milhões de desempregados, dois milhões a mais que quando Meirelles assumiu o ministério. Pior, o tempo de procura por trabalho disparou e o desemprego prolongado se tornou comum. A perda do emprego voltou a ser, como nos 1990’s, uma das preocupações principais dos trabalhadores. Desempregados ou mal remunerados, pois os salários dos contratados são significativamente menores que o dos demitidos, estes se defrontam ainda com a explosão das taxas de violência. Não surpreende que, com isso, as pesquisas de intenção de voto apontem números inexpressivos para aquele que melhor encarna a política econômica do governo Temer.
Sem perspectiva da vitória eleitoral do ex-ministro da Fazenda, as forças políticas conservadoras vêm se congregando em torno da candidatura do tucano Geraldo Alckmin, inclusive retirando candidaturas alternativas da disputa. Nesse cenário, sem intenções de voto nem apoio político, porque Henrique Meirelles ainda é candidato? É provável que, do seu ponto de vista, a vaidade pessoal jogue algum papel, mas a razão principal para a sustentação de sua candidatura por parte daquelas forças a despeito dos seus prognósticos obscuros possivelmente está na contribuição que ela ainda pode dar para garantir a continuidade do projeto de país que vem sendo implantado, mais desigual e menos soberano e onde o Estado é incapaz de promover políticas de desenvolvimento econômico e social. O impacto já percebido pela população e o sentido das reformas anunciadas tornam esse projeto eleitoralmente inviável e fazem com que nenhum candidato que pretenda vencer as eleições se atreva a representa-lo abertamente. Ao aceitar fazer isso em nome da manutenção de sua candidatura, Meirelles chama para si as críticas que lhe são dirigidas e permite que outro candidato, tão comprometido com as transformações em curso como ele, assim não se mostre, aumentando suas chances nas eleições. Alckmin, apesar de ser o presidente do partido que contribuiu de forma mais decisiva para que o governo impopular que conduz esse projeto chegasse ao poder e que fornece até hoje vários de seus quadros principais, é quem tem assumido esse papel. Ocultando sua atuação nos últimos anos e se apresentando, ao contrário de Meirelles, como candidato desvinculado do atual governo, propõe assim cinicamente “olhar para o futuro”. Resta saber se a população não perceberá o artifício.
Fonte: Portal Vermelho
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