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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A tropa de elite é como a elite é: bruta e cruel com os pobres

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A tropa de elite é como a elite é: bruta e cruel com os pobres

A Folha traz hoje uma destas reportagens que, mesmo bem intencionadas, incorre no mesmo erro de colocar policiais com preocupações humanistas e legalistas na categoria dos “personagens folclóricos”.
O Coronel Íbis Pereira, que desafina o coro da brutalidade e diz que a política precisa parar de cultuar a violência, não é uma “anormalidade” na corporação. É antes um dos “sobreviventes” de uma corrente do oficialato policial-militar que tem, há 20 anos, sido colocado à margem, discriminado e desvalorizado.
O coronel Ibis é um dos muitos jovens da periferia que encontrou, como cadete policial-militar a oportunidade de educar-se e progredir profissionalmente, quando este país lhes oferecia poucas ou nenhuma possibilidade. Seus méritos são seus e de todo um contingente de jovens que resistiu ao caminho fácil da brutalidade, que não raro se liga a negócios.
Esta corrente humana, sufocada durante a ditadura pelo comando do Exército sobre a atividade policial – e, como é natural para um exército, impondo sua visão de guerra – pôde vir à tona no Rio de Janeiro quando um de seus mais bem preparados integrantes, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira, outro dos oficiais que vieram das mesmas origens do Coronel Ibis, foi guindado ao comando da PM no Rio de Janeiro.
E como foram combatidos e caluniados! Por se recusarem a produzir cenas de barbárie como as que a PM descia os morros com pobres enfieirados numa corda, como nos tempos da escravatura retratados nas gravuras de Debret, a mídia e o conservadorismo diziam que a polícia não podia subir morro, que tratava os bandidos aos paparicos, que estava emasculada.
Ibis, diz a Folha, entrou na PM influenciado pelas ideias de Cerqueira e Darcy Ribeiro.  Tem pavor da caveira como símbolo do BOPE, diz que se estabeleceu um culto à brutalidade do batalhão de elite da polícia fluminense.
Não foi por acaso e menos ainda por culpa exclusiva de um pensamento policial militar.
A mídia sempre exigiu dos governantes do Rio de Janeiro – e vários deles cederam docemente a isso – uma repressão brutal sobre os pobres, embora recentemente mais bem “cobertas” pelo discurso da devolução da liberdade ás comunidades dominadas pelo tráfico.
Como se promover a ocupação militar de uma área pudesse libertar seus habitantes.
A classe média, em nome da “segurança” apoiou a transformação das polícias em tropas que portam fuzil, algo que não existe em qualquer lugar do mundo. E vibrou com a expulsão do tráfico lá para as lonjuras da periferia, com ” ocupações” bélicas para as quais, claro, se providencia o necessário “aviso prévio” ao tráfico para que se mude para outra área.
Vibrou com o festejado cinema que mostrou esta polícia “heróica” com os de baixo.
Mas torceu o nariz para quando, em lugar de containeres como aquele em que foi torturado e morto o trabalhador Amarildo de Souza, o Estado “invadia” – e não uma dúzia, mas centenas – favelas com escolas de alta qualidade e uma concepção de tirar das ruas e dar atenção integral às crianças.
Ah, aí era demagogia e populismo.
Política de Estado, boa, mesmo, é Caveirão e seus “caveiras” da tropa.
A tropa de elite foi, pra valer, a tropa da elite, que não consegue ver outra maneira de tratar nossos irmãos pobres senão como animais: ou se amestra, ou se enjaula.
Mas essa elite se choca quando vê, sobre seus filhos, um pouco, apenas um pouco, do que os jovens pobres da favela vivem todos os dias: o “geral, encosta aí!” ; o flagrante forjado, a violência gratuita.
“A dignidade da pessoa não é valor no Brasil. É apenas retórica, discurso. A pessoa vomita isso, mas não acredita. Os direitos humanos são um conceito em crise”, diz o Coronel Ibis.
São, coronel, e uma das origens desta crítica é, certamente, uma elite e uma mídia que, para seus desafetos, políticos e socais, quer a justiça do “mata e esfola”, na policia e na Justiça.
E que ficam muito espantadas quando encontram um que se aventura a pensar.
Afinal, não é para isso que lhe pagam.
Fonte: O Tijolaço

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