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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Manifesto dos diretores brasileiros do Festival 'É Tudo Verdade'

Manifesto dos diretores brasileiros do Festival 'É Tudo Verdade'

Na noite de domingo último, depois do anúncio do vencedor brasileiro da 25a. edição do Festival É Tudo Verdade, um dos mais antigos e importantes certames cinematográficos do Brasil, foi lido e começou a ser divulgado um duro Manifesto dos 21 diretores que participaram dessa competição, com o repúdio veemente das vergonhosas ações políticas na área da Cultura que vêm sendo articuladas, há mais de um ano, pelo atual governo autoritário, de extrema direita de Jair Bolsonaro.

Na noite de domingo último, depois do anúncio do vencedor brasileiro da 25a. edição do Festival É Tudo Verdade, um dos mais antigos e importantes certames cinematográficos do Brasil, foi lido e começou a ser divulgado um duro Manifesto dos 21 diretores que participaram dessa competição, com o repúdio veemente das vergonhosas ações políticas na área da Cultura que vêm sendo articuladas, há mais de um ano, pelo atual governo autoritário, de extrema direita de Jair Bolsonaro.

No conjunto de ações truculentas do governo que amordaça a Cultura brasileira, censurando e descartando seus representantes máximos e, sobretudo, históricos; aparelhando as instituições e agências da área com a nomeação escandalosa de figuras ridículas ou ignorantes sem qualquer expressão na vida cultural do país além da sua especialidade em telenovelas, e limitadas pelo baixo nível cultural e intelectual, destacou-se logo no começo da administração atual a extinção do Ministério da Cultura (MinC) e sua inadmissível substituição por uma secretaria submetida a um Ministério do Turismo!

A devastação continuou com o aparelhamento da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, responsável por emitir pareceres sobre solicitações de artistas que buscam financiamento para seus projetos por meio da Lei de Incentivo à Cultura conhecida como Lei Rouanet. Entre outros atos que visam ao esfacelamento da Cultura no país, seguiu-se o desmonte maligno da Cinemateca Brasileira fundada há 80 anos, responsável pela preservação da produção audiovisual brasileira, com um acervo de cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de documentos relacionados ao cinema nacional. Seus funcionários foram demitidos.

Um dos crimes recentes contra um dos mais populares dispositivos culturais do Rio de Janeiro, centro de referência no ensino da produção cinematográfica brasileira, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro, patrimônio histórico e cultural do país, foi despejada há dois meses do imóvel que ocupava há mais de 20 anos para ceder o prédio ao proprietário, a ECT, ou seja, aos Correios, que estão sendo privatizados.
''Uma situação gravíssima'', denuncia o Manifesto dos diretores de cinema brasileiros repelindo todas as sórdidas manobras na investida que visa recriar um Brasil retrógrado, anacrônico, com valores conservadores rejeitados em todos os países democráticos modernos do mundo civilizado.

E o mais grave: a tentativa de reconstruir um país que passará a formar das novas gerações de jovens, adultos boçais, ignorantes, grosseiros na sua proverbial cafajestice e indiferentes à cultura. Como prega o modelo neofascista que vem do Palácio do Planalto de Brasília.

O Manifesto

''Manifestamos nosso total desacordo com os rumos da política cultural do país. O governo de extrema direita do Jair Bolsonaro age desde o início para atacar e silenciar os brasileiros que fazem cultura e arte como seus inimigos”, afirmam os diretores. ''A atividade audiovisual está paralisada desde março, com a suspensão de todos os recursos públicos para a produção de filmes e séries. Isso tem provocado uma taxa crescente de desemprego.''

''São muitas as empresas que estão falindo, cineastas passando necessidade e a ameaça de paralisia total do setor. Isso sem falar da cinemateca brasileira, com seu acervo histórico que corre o risco de total destruição”, dizem ainda no Manifesto contra Bolsonaro.

''Eles têm medo de nós. A situação é gravíssima. Por isso convidamos as realizadoras e realizadores do audiovisual a se voltarem, mais uma vez, para a realidade. E, acima de tudo, não se intimidarem. É preciso cada vez mais buscar novas formas de produzir e registrar a nossa memória. E nunca parar e nem silenciar. Um país sem imagens de si mesmo é como alguém que não sabe o que é. É um país com alzheimer”.

"É preciso cada vez mais buscar novas formas de produzir e registrar a nossa memória. Um país sem imagens de si mesmo é como alguém que não sabe o que é”, afirma o grupo de 21 diretores no Manifesto.

O fundador e diretor do É Tudo Verdade, Amir Labaki, destaca: ''É devastador o impacto sobre a vida e as finanças dos profissionais, entidades e empresas diretamente envolvidas no setor. O Brasil tem mais de quatro milhões de confirmados com coronavírus e nenhum final à vista para a mais aguda emergência sanitária do século.''

''Mas se o vírus persegue a vida a cultura nos humaniza,'' diz Labaki.

Os vinte e um diretores que assinaram o documento: Aurélio de Michiles, Bernardo Vorobow, Bruno Moreschi, Carlos Adriano, Carol Benjamin, Clarice Saliby, Cláudio Moraes, Diógenes Muniz, Guga Millet, João Jardim, Jorge Bodanzky, Marcelo Machado, Mari Moraga, Mariana Lacerda, Paschoal Samora, Rafael Veríssimo, Roberto Berliner, Rubens Rewald, Silvio Tendler, Tali Yankelevich, Toni Venturi.


Fonte: Carta Maior

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