Coluna Econômica
A definição dos cenários políticos futuros costuma ser tarefa tão inglória quanto a projeção de cenários econômicos.
Esse foi o desafio de uma mesa que mediei na 4a feira à noite, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Compunham a mesa os professores Aldo Fornazieri, Carlos Melo e André Singer.
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Um dos pontos de discussão foi sobre o que Fornazieri chamou de “mito determinante das eleições”. Em sua opinião não existe um fator que influencie eleições. O ponto determinante é a conjuntura. Há conjuntura de continuidade e conjuntura de mudança, diz ele.
Em São Paulo, Serra enfrentou uma conjuntura de mudança. E seria derrotado por qualquer um dos três candidatos que representasse o novo, Fernando Haddad, Gabriel Chalita ou Celso Russomano.
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Melo considerou que a indicação de Serra para disputar a prefeitura de São Paulo abortou um movimento de renovação do PSDB. Por que esse erro reiterado do PSDB com Serra, indaga ele? Em sua opinião, há um esvaziamento de lideranças políticas no mundo inteiro.
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Em minha opinião, o grande problema dos dois maiores partidos brasileiros, o PT e PSDB, é o da governança, da democracia interna.
A atual geração de dirigentes é filha da campanha das diretas, nos anos 80. Estratificaram-se no poder, impedindo a renovação, especialmente a partir de um certo paulicentrismo.
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No caso do PT, houve a renovação – com Dilma e, agora, com Haddad – exclusivamente devido ao enorme poder que Lula desenvolveu internamente no partido, especialmente após o esvaziamento da liderança de José Dirceu, após o episódio do “mensalão”.
Sem essa liderança, os mecanismos internos do partido - mesmo sendo mais democráticos que no PSDB – jamais teriam aberto espaço para as novas candidaturas.
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No PSDB, Fernando Henrique Cardoso reconheceu a necessidade de renovação mas não botou a mão na massa – como Lula. A presidência do partido estava nas mãos de um político inexpressivo.
Com isso, deixou espaço livre para a truculência de Serra e do pequeníssimo exército de centuriões que o acompanha.
Não ter lançado Aécio candidato em 2010 pode ter sido o erro final do partido.
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Mesmo aceitando-se a tese da renovação em São Paulo, não houve concordância se foi um fenômeno nacional. Singer supõe que sim, pelo número de prefeitos novos eleitos, especialmente nas capitais. Fornazieri viu novidades apenas onde prefeitos não poderia se reeleger.
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Em relação às próximas eleições presidenciais, alguns pontos de vista concordantes e outros discordantes.
Primeiro: é sonho sem sentido do PSDB, supor que o governador pernambucano Eduardo Campos aceitaria ser vice em uma chapa com Aécio Neves. Campos tem voo próprio e, se os ventos da economia estiverem favoráveis, vai e resguardar para 2018.
Por outro lado, não se acredita que o PSDB deixará de lançar Aécio como candidato em 2014. Segundo Fornazieri, se Aécio não sair candidato, o PSDB acaba, como grande partido nacional.
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Há arranjos alternativos. Recentemente, em um programa Brasilianas, o cientista social Marcos Nobre aventou a possibilidade de uma dobradinha Campos-Anastasia, com Aécio se candidatando novamente ao governo de Minas, por falta de sucessores no Estado.
O fator 2006 - 1
Para Singer, as eleições de 2006 foram um marco divisor, quando eleitores de baixa renda – que votaram em Fernando Collor e, depois, em Fernando Henrique Cardoso – aderiram em massa à candidatura Lula e, depois, lentamente seguiram em direção ao PT. Esse movimento modificou a base do PT que, antes, era mais de classe média dos grandes centros.
Simultaneamente, ocorre um afastamento da classe média.
O fator 2006 - 2
Esse afastamento ocorre antes do do “mensalão” devido aos paradoxos do governo Lula. O primeiro mandato misturou políticas díspares. De um lado deu continuidade ao tripé neoliberal (metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário). Teve efeitos nefastos, na quebradeira da cadeia produtiva de diversos setores industriais. Em certa medida ainda está presente na política atual, diz Singer.
O fator 2006 - 3
Na outra ponta, Lula ganhou espaço político para políticas sociais exatamente opostas ao ideário neoliberal, que consistiram em distribuir renda para setores mais necessitados. Mas considera que o modelo lulista esgotará nos grandes centros urbanos, que exigirão muito mais recursos do que as quireras distribuídas pelo Bolsa Família. Sistema de saúde que dê conta de uma população como SP, exige muito dinheiro.
Os novos tempos
Há que se levar em conta outros fatores na história. O país já possui uma carga tributária extremamente elevada, sem muito espaço para mais aumentos. Por outro lado, nos últimos anos houve uma redução significativa da dívida pública e, de agosto do ano passado para cá, da taxa Selic. Isso abrirá espaço para a liberação de recursos para investimentos e gastos públicos. Mas exigirá, sobretudo, melhoria substancial na gestão pública
O papel do gestor público - 1
Hoje em dia, três dos políticos melhor avaliados do país – Eduardo Campos, o prefeito do Rio Eduardo Paes e, antes, Aécio Neves (apesar de jamais ter se envolvido diretamente com a gestão do estado) – souberam incorporar mecanismos de gestão que lhes permitiram entregar parte do prometido ao eleitorado. Mas quando se fala em político gestor, os cientistas sociais tendem a ver o tecnocrata substituindo o político.
O papel do gestor público – 2
Ora, o grande gestor – seja na política ou na grande organização privada – é, acima de tudo, um estadista. Tem que saber definir metas, liderar equipes, conquistar corações e mentes e criar as condições políticas para a implementação das medidas. Um mero tecnocrata jamais será grande gestor. Campos tornou-se político nacional, inicialmente, por reunir virtudes de grande político. E o diferencial do grande gestor.
Fonte texto: Blog Luís Nassif Online
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