Amigo do secretário estadual de Cultura poderia ser favorecido na licitação; MP investiga aparelhamento de OS
Um edital para contratar projeções mapeadas e iluminação arquitetural foi cancelado pela Amigos da Arte, Organização Social contratada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. A suspensão da licitação ocorre após a denúncia, feita pelo Brasil de Fato, de que a entidade pode ter sido aparelhada pelo secretário Sérgio Sá Leitão.
A Amigos da Arte, que possui o segundo maior contrato com a Secretaria de Cultura (R$ 153 milhões), mantém em seus postos de comando pessoas ligadas a Sá Leitão.
A denúncia é alvo de um inquérito civil, instaurado pelo Ministério Público de São Paulo para apurar a “suspeita de má gestão de recursos públicos e afronta aos princípios administrativos pela Organização Social de Cultura Amigos da Arte.”
Ainda de acordo com o MP, a entidade “manteria estreita ligação com a pasta, com a contratação de empresas e pessoas próximas ao atual secretário Sérgio Sá Leitão para prestação de serviços e cargos de direção.”
Entre as empresas e pessoas que manteriam “estreita ligação” com o secretário Sá Leitão, está Alexys Evagelous Anastasiou, o VJ Alexis, proprietário das empresas Visualfarm Produções Ltda e Paralax-Media Technology Ltda.
O artista, que já foi contemplado em outros eventos da Amigos da Arte, recebeu R$ 367 mil para realizar projeções noturnas nos prédios do Teatro Sérgio Cardoso, do Hospital das Clínicas, e mais dois edifícios nos bairros da Santa Cecília e outro na Avenida Paulista, entre os dias 14 de abril e 28 de junho.
As projeções mapeadas e iluminação arquitetural são justamente o objetivo do edital que foi cancelado pela Amigos da Arte. De acordo com a licitação , a empesa ganhadora deveria iniciar os trabalhos em até cinco dias após a assinatura do contrato e as atividades deveriam ocorrer em todos os dias, até 6 de janeiro, das 19h até 23h59.
Alexis é o idealizador e integrante de outros projetos culturais particulares, ao lado de Gnaspini, diretor da Amigos da Arte, como o projeto “Natal Iluminado” e o “Festival de Luzes”, que foram contratados pela Prefeitura de São Paulo durante os últimos anos.
Em dezembro de 2019, por exemplo, quando Gnaspini já era diretor da OS que executa recursos públicos estaduais, o projeto de ambos foi contratado pela Secretaria Municipal de Cultura para projeções no Mosteiro de São Bento e na fachada do Edifício Matarazzo, por R$ 670 mil.
Em outubro de 2020, poucos meses após ter sido contratado pelos programas públicos estaduais da Amigos da Arte por Gnaspini, ambos voltaram a aparecer na coordenação e curadoria do Festival de Luzes na capital paulista.
Amigos da Arte
Firmado em julho de 2016, o contrato da Amigos da Arte com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa se encerra em 31 de outubro de 2021. O valor total é de R$ 153 milhões, que são pagos em parcelas anuais de cerca de R$ 30 milhões. Entre as Organizações Sociais que atendem o governo paulista, somente a Fundação Osesp recebe mais, R$ 255 milhões.
A Amigos da Arte administra o Teatro Sérgio Cardoso, o Teatro Municipal de Araras, e o Museu da Diversidade Sexual. Também é responsável pela organização da Virada Cultural, do Circuito Cultural Paulista e o Revelando São Paulo.
Outro lado
Procurada, a Amigos da Arte afirma que, apesar do site da entidade informar que o edital foi cancelado, ele teria sido, na verdade, “transferido para o exercício 2021 devido à alta demanda do mercado de projeções mapeadas e iluminação arquitetural, aquecidos pelo período de festas e acentuado por força da pandemia, onde existe maior procura por ações artísticas que não gerem aglomerações e possam ser apreciadas à distância ou de passagem".
Anastasiou afirma que possui "um dos maiores estúdios de projeção mapeada do Brasil.
"Participamos de muitas concorrências privadas e governamentais. As governamentais são a menor parte e as que pagam menos, mas são as que nos permitem fazer projetos com mais liberdade artística. O projeto que você se refere foi ganho em uma tomada de preços pública e nós tivemos o menor preço, muito inferior ao que seria cobrado a um cliente privado", disse ao Brasil de Fato.
Ainda de acordo com o empresário, a notícia da investigação do Ministério Público foi uma surpresa. "Não tenho relação com o secretário Sérgio Sá Leitão e tivemos nos últimos anos muitos projetos e pedidos negados junto a secretária estadual e somente uma tomada de preços ganha, por menor preço".
Fonte: Brasil de Fato
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