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terça-feira, 10 de novembro de 2020

Letícia Parks: “Parece que a Djamila se atribuiu o direito de decidir quem é negro”

Chamada de "clarinha de turbante" por filósofa, militante marxista negra lançou um abaixo-assinado pedindo direito de resposta ao Roda Viva

Há alguns meses fiz um vídeo com uma crítica política à Djamila, que se referia ao fato de ela ter feito um vídeo de publicidade para a empresa 99, e ainda por cima em meio aos protestos dos entregadores de aplicativos que lutavam contra as absurdas condições de trabalho e o pagamento de fome que recebiam em suas jornadas extenuantes. Trabalhadores que são em grande parte negros, e sofrem duplamente com a exploração capitalista e a opressão racista, e mais ainda nesse governo reacionário de Bolsonaro, Mourão e com apoio de todos os golpistas.

Sou negra, antirracista, marxista e revolucionária, e quero meu direito de resposta frente aos insultos de Djamila Ribeiro.

Há alguns meses fiz um vídeo com uma crítica política à Djamila, que se referia ao fato de ela ter feito um vídeo de publicidade para a empresa 99, e ainda por cima em meio aos protestos dos entregadores de aplicativos que lutavam contra as absurdas condições de trabalho e o pagamento de fome que recebiam em suas jornadas extenuantes. Trabalhadores que são em grande parte negros, e sofrem duplamente com a exploração capitalista e a opressão racista, e mais ainda nesse governo reacionário de Bolsonaro, Mourão e com apoio de todos os golpistas.
Eu coloquei este debate porque entendo que o racismo é uma opressão secular criada pelo capitalismo para poder aprofundar sua exploração, e que é usado sistematicamente para este fim, relegando os negros –e principalmente as mulheres negras– aos empregos mais precários e com menores salários. E Djamila, ao colocar o prestígio de sua figura para a publicidade de uma empresa, se mostra conivente com a tentativa desses capitalistas de ocultar o seu racismo sob uma fachada de “propaganda inclusiva”.  Se trata de um debate sobre que tipo de antirracismo é necessário construir, e o meu é ao lado dos trabalhadores e em combate ao capitalismo. Um debate político.

"Djamila reiteradamente desmerece minha militância como mulher negra e coloca em dúvida inclusive minha identidade racial, se atribuindo o direito de definir quem é negra e quem não é, quem sofre racismo ou não"

Contudo, a resposta que Djamila deu foi a de me insultar pessoalmente por quase meia hora em uma live com Marcelo Freixo, dizendo absurdos como que eu seria uma “clarinha de turbante” que é manipulada por uma “branquitude racista”. Assim, Djamila não apenas quis dizer que eu não sou negra “de verdade”, desmerecendo minha identidade e minha luta contra o racismo, como afirmou que não sou capaz de pensar com minha própria cabeça, e que minhas ideias são “manipulações” de “brancos racistas” que me utilizam para atacar pessoas negras como ela. Distorce completamente o debate, me insultando para não responder ao meu questionamento a uma mulher negra que coloca seu prestígio a serviço de encobrir o racismo de uma empresa capitalista bilionária. Inclusive, quando ela e sua família sofreram ameaças físicas eu me solidarizei, porque rechaço qualquer tipo de ameaça, meu debate é político.
Agora, em rede nacional, e com o apoio de Vera Magalhães e do Roda Viva, Djamila Ribeiro volta aos ataques contra mim: não apenas reafirmou o uso do termo “clarinha de turbante”, mas acrescentou outros termos absurdos e historicamente utilizados de forma racista contra o povo negro e sua identidade. Distorcendo Lélia Gonzalez, me atribuiu os rótulos de “moreninha”, “mulatinha”, e ainda novamente que seria “usada” por uma “branquitude racista” para “atacar pessoas pretas que estão fazendo seu trabalho honestamente”. Até o direito ao meu nome foi tolhido no referido programa. Me atribuindo todas essas formas de epítetos inaceitáveis para a história racista de nosso país.
O que Djamila faz reiteradamente é desmerecer minha militância como mulher negra, marxista e revolucionária, e colocar em dúvida inclusive minha identidade racial, se atribuindo o direito de definir quem é negra e quem não é, quem sofre racismo ou não. Diferente do que ela diz, sei muito bem do racismo que eu e o povo negro sofremos a vida inteira, e a questão que a incomoda verdadeiramente é que não me coloco numa perspectiva antirracista liberal como ela, em que se defende que os negros devem buscar individualmente espaços de poder e projeção e que isso resolveria o problema do racismo. Defendo um antirracismo revolucionário e marxista, que compreende a profunda inter-relação entre capitalismo e racismo, e luta não pelas possibilidades individuais de um negro que ascenda, mas pela emancipação de todos os negros da opressão e da exploração, lutando lado a lado com os trabalhadores brancos. Por isto me coloco ao lado dos entregadores de aplicativos e contra as empresas que os exploram, e por isto questiono politicamente – e não com ataques pessoais – uma figura pública negra que se coloque ao lado desta empresa. 
Djamila teve espaço em rede nacional de televisão para me insultar, me desacreditar, colocar minha identidade e minha militância em questão. Eu apenas reivindico o direito de ter o mesmo espaço para poder me defender, lutar pelas minhas ideias e refutar os insultos sofridos. Quero ter minha voz ouvida, como Djamila teve a dela para me insultar. Por isto lancei um abaixo-assinado exigindo o direito de resposta no Roda Viva, onde Djamila teve seu espaço para promover abertamente seus insultos contra mim. Não vou abaixar a cabeça, junto com todos os negros que tiveram seu direito a identidade negada, sempre ao lado da classe trabalhadora, seguirei lutando pelas minhas convicções e ideais. 

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