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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Advogado de Galo vai pedir HC e audiência de custódia: “Vivemos tempos sombrios"

Jacob Filho destacou que não há justificativa para a prisão de Gessica, companheira do ativista: “Ela, sequer, estava presente ao ato", disse, se referindo ao incêndio na estátua de Borba Gato

Jacob Filho, advogado de defesa do entregador de aplicativos, Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, preso nesta quarta-feira (28) por envolvimento no incêndio da estátua de Borba Gato, criticou a decisão. Para ele, não há justificativa para a decisão, especialmente no caso da companheira do ativista, Gessica, que também teve prisão provisória decretada

Jacob Filho, advogado de defesa do entregador de aplicativos, Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, preso nesta quarta-feira (28) por envolvimento no incêndio da estátua de Borba Gato, criticou a decisão. Para ele, não há justificativa para a decisão, especialmente no caso da companheira do ativista, Gessica, que também teve prisão provisória decretada.

O advogado relatou que vai ingressar com pedido de habeas corpus (HC) para ambos. “Vivemos tempos sombrios”, resumiu.

Em relação a Galo, Jacob disse que, além do HC, vai pedir audiência de custódia. “Toda a pessoa, quando vai presa, é submetida, por uma regulamentação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a uma audiência de custódia. Por conta da pandemia, as audiências não são mais presenciais. No prazo de 24 horas, o juiz reavalia a prisão ou não. Nesse caso, deveremos fazer o pedido amanhã (quinta) e, também, por HC”.

Ele declarou, ainda, que um juiz, quando emite um mandado de prisão, tem que trazer as razões que ele acredita para que a pessoa possa ser presa. “Trata-se de uma prisão temporária. Então, ela tem cinco dias, podendo ser prorrogada por mais cinco dias”.

O advogado foi veemente ao tratar do caso da companheira de Galo. “A razão para eu discordar da prisão decretada contra Gessica é muito óbvia. Existem diversas medidas, fora a prisão, que você pode tomar sem tirar a liberdade de uma pessoa. Ela, sequer, estava presente ao ato. Não participou ativamente de absolutamente nada”, afirmou.

Suprema Corte

“Então, hoje você vê uma Gessica presa, mãe de uma criança de três anos, contrariando posicionamento da Suprema Corte brasileira, que proíbe encarceramento de mães nesses casos. Qual o sentido de tudo isso? Esse é o questionamento que eu faço. Impetraremos habeas corpus e o delegado, se entender necessário, pode ele mesmo requerer a revogação da prisão temporária”, destacou Jacob.

Ele explicou, ainda, que o telefone utilizado por Galo está no nome da Gessica. “É só por essa razão. Ela não tem ligação nenhuma, a não ser o fato de ser esposa, mais nada. Uma mulher com seu trabalho e mãe”, reiterou.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Com cerca de 500 mil famílias sem-casa, MG é o 2º com maior déficit no Brasil

Dado que integra relatório da Fundação João Pinheiro (FJP) indica crescimento de 15,8% no índice, em Minas Gerais, em um intervalo de quatro anos: Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) conseguiu aprovar projeto voltado à redução do deficit na capital

Com a fala entrecortada pelo barulho dos ônibus e automóveis que percorrem a rua dos Caetés, à região Central de Belo Horizonte, Maria Eliseth, 60, relembra os pormenores da noite de 14 de abril de 2015, quando ela e cerca de 150 famílias sem moradia irromperam os portões do antigo prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no número 530 da via, vazio há mais de duas décadas, para habitá-lo. A ocupação à rua dos Caetés, facilmente reconhecida pela faixa com os dizeres

Com a fala entrecortada pelo barulho dos ônibus e automóveis que percorrem a rua dos Caetés, à região Central de Belo Horizonte, Maria Eliseth, 60, relembra os pormenores da noite de 14 de abril de 2015, quando ela e cerca de 150 famílias sem moradia irromperam os portões do antigo prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no número 530 da via, vazio há mais de duas décadas, para habitá-lo. A ocupação à rua dos Caetés, facilmente reconhecida pela faixa com os dizeres "este imóvel cumprirá sua função social", foi a primeira no hipercentro da capital, mas, com o crescimento do número de pessoas sem-casa em Minas Gerais e na região metropolitana de Belo Horizonte, não será a última.

Um relatório recém-divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP) a partir de metodologia que parte dos dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) indica que o Estado de Minas Gerais é o segundo do Brasil com maior déficit habitacional – amostragem mais recente, de 2019, revela que 496 mil núcleos familiares não têm onde morar na região. O índice é 15,8% maior que em 2016, quando a PNADc foi lançada. À época, o déficit mineiro era de 428 mil domicílios. 

O déficit habitacional é calculado a partir de três circunstâncias: famílias que arcam com ônus excessivo do aluguel – são aquelas que recebem até três salários mínimos, e empregam 30% da renda com o aluguel –, pessoas que moram "de favor" e aquelas que residem em habitações precárias. À região metropolitana de Belo Horizonte o cenário mantém parâmetros semelhantes aos do Estado de Minas Gerais. Com 11,1% de crescimento entre 2016 e 2019, o déficit saltou de 96 mil para 107 mil. Especificamente na capital mineira, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) reconhece a existência de 56 mil famílias e pessoas sem moradia. Em contrapartida, de acordo com levantamento da Câmara Municipal de BH, são 64 mil os imóveis vazios na cidade – ou seja, há mais imóveis vazios que famílias sem-casa, como pondera a vereadora Bella Gonçalves (PSOL) sobre a situação habitacional. 

"A ausência de moradia gera uma série de problemas sociais, aumenta a miséria das famílias, provoca a desestruturação desses núcleos que, após mudanças, remoções e despejos, se desencontram. O Brasil nunca efetuou uma política de habitação séria". A percepção da vereadora, integrante do movimento Brigadas Populares, é de que o cenário caótico da habitação foi principalmente acentuado com o coronavírus. "A pandemia escancarou as desigualdades habitacionais na nossa cidade. Percebemos um aumento contínuo de famílias sem-casa, e especialmente de famílias inteiras que estão indo morar na rua em função de despejos, por não poder pagar seus alugueis. Vemos crescer, e muito, a pressão por novas ocupações em Belo Horizonte", reforça. 

Hoje, de acordo com a PBH, 108 mil pessoas residem em ocupações urbanas na capital mineira – como as ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, que compõem a Izidora, a maior de BH, nos limites do município com Santa Luzia. O crescimento do déficit habitacional em Belo Horizonte tornou-se assunto em audiência da Câmara Municipal que, no início do mês, deu parecer favorável a um projeto de lei do prefeito Alexandre Kalil (PSD), que pretende aliviar o gargalo de moradias na cidade. O PL 826/2019 foi aprovado, e seguirá para ser submetido à redação final. O projeto autoriza o Executivo de BH a doar áreas públicas e próprias para programas públicos de habitação, como também permite que a PBH faça aportes financeiros no Fundo de Arrendamento Residencial. Com ele também é criado o Programa de Compra Compartilhada de Imóvel, que oferecerá auxílio financeiro para aquisição de moradias por famílias selecionadas. 

"Nós acreditamos que é um instrumento interessante, mas, BH terá que construir uma política de subsídios mais robusta. É necessário que a prefeitura dê uma entrada alta na compra dos imóveis para diminuir o valor das parcelas que as famílias têm que pagar", esclarece Bella Gonçalves. 

Ocupações. Um corredor à esquerda de quem adentra o antigo prédio do INSS na rua dos Caetés desemboca no primeiro lance de escadas para a entrada na ocupação. Atualmente, 49 núcleos familiares estão instalados no espaço. As salas do edifício comercial foram separadas em três espaços, um para cada família, banheiro coletivo e, em algumas delas, há também uma cozinha. A sensação de que há um número maior de pessoas e famílias ocupando as ruas de Belo Horizonte após o início da catástrofe sanitária da Covid-19 é compartilhada também por Maria Eliseth, que integra a coordenação do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). 

"O número de pessoas nas ruas cresceu muito. Eu estou impressionada. A gente que mora aqui no centro de BH, percebe melhor essa movimentação. Tenho escutado de muita gente: 'ah, estou morando agora na praça da Estação'. A situação está muito difícil. São famílias e mais famílias morando ali nas entradas dos casarões na avenida Amazonas", pontua. "As pessoas estão desesperadas, principalmente nessa época de frio. O que ela pode fazer? Tem casas vazias, e só resta entrar nesses imóveis para sobreviver. São pessoas com crianças, com idosos, com pessoas deficientes...", conclui.

A realidade de sobreviver em uma ocupação tornou-se mais áspera para ela nos últimos três anos, quando perdeu o pai, que vivia com ela na ocupação, acamado, aos 101 anos, e quando descobriu um câncer. Recuperada, Maria Eliseth afaga os cabelos que recém-cresceram e cita as dificuldades do dia-a-dia em ocupações. "Tudo em ocupação é complicado. Em alguns imóveis, como aqui, você tem água, luz, mas, em outros, não. E são coisas essenciais para o ser humano. Morar em ocupação não é fácil". 

Frederico Poley, cientista da Fundação João Pinheiro (FJP) que liderou a construção do relatório, igualmente partilha da percepção de que o déficit habitacional sofrerá um aumento estatístico após a pandemia de Covid-19, e em função dela. "A tendência é de aumento em função do aumento do desemprego. Temos observado um crescimento da população em situação de rua. Muitos não conseguem pagar aluguel, e a tendência é de que o déficit cresça em decorrência da pandemia", detalha. Despejos estão suspensos até dezembro de 2021, mas, a determinação aprovada no Senado Federal não se aplica à realidade do mercado imobiliário informal. 

Habitações precárias

À região Norte de Belo Horizonte, a Vila Biquinhas concentra construções de palafitas, como as tão conhecidas nas regiões Amazônica e Pantanal. Entretanto, longe de aproximar-se das belezas naturais e dos rios de tais localidades, a ocupação é mergulhada em um esgoto a céu aberto nas imediações do bairro Heliópolis, e as palafitas erguidas para minimizar impactos de enchentes no córrego. A construção não foi suficiente para evitar que Sérgio Marques, 62, perdesse parte de seu imóvel no último período de chuvas na capital mineira.

Coordenador da Pastoral Metropolitana dos Sem-Terra, ele foi uma entre as três pessoas que primeiro chegaram à região para ocupá-la. Foram poucas as mudanças que ele percebeu no período de quarenta anos para cá. "Nós somos a única ocupação de Belo Horizonte que ainda tem casas de palafita. A área da Vila Biquinhas é uma ocupação, somos em 1.400 famílias. Agora é que começamos a perceber alguns indícios de mudança, com o prefeito Kalil estamos percebendo um tratamento mais humanizado sobre a questão do esgoto, ele (Alexandre Kalil) quer construir a rede de esgoto", pontua. Imóveis em palafita na Vila Biquinhos são contemplados no déficit habitacional como habitações precárias. Em Minas Gerais, 113 mil são consideradas precárias, e na região metropolitana de Belo Horizonte, são 5.061 imóveis inabitáveis, de acordo com o relatório da FJP. 


A lembrança de ter vivido em um acampamento na Igreja São José, no centro de Belo Horizonte, é a primeira recordação que aparece à mente de Carlos da Silva, 53, quando ele relembra o início de seu engajamento em organizações sociais que defendem políticas habitacionais. "Meu pai me levou para o acampamento. Eu era rapazinho na época, mas já queria saber e entender o porquê de nós estarmos morando na igreja, debaixo de uma lona, enquanto pessoas viviam nos prédios do centro. Tinha essa consciência, mas não sabia explicar". 

Um modelo semelhante de manifestação por moradia foi o escolhido por ele no início do mês, em 13 de julho, quando Carlos e colegas de movimentos sociais armaram um acampamento às portas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de BH, para pedir que o Estado de Minas Gerais destine parte dos R$ 37 bilhões acordados com a Vale, pela tragédia em Brumadinho, para a construção de moradias de interesse social.

"Quando eu comecei a lutar, já desacreditado e com muito sofrimento, jurei para Deus: 'Deus, o dia que você me der uma casa, eu prometo lutar o resto da minha vida por quem não tem'. E assim aconteceu, consegui minha casa aqui na ocupação Vila Mariquinhas". Coordenador-geral da Pastoral Metropolitana dos Sem-Casa, Carlos é morador da antiga ocupação, que tornou-se o bairro Juliana, à região Norte de BH. "Hoje nós precisamos de cerca de 40.000 moradias em BH. Foi o que a gente reivindicou na Assembleia com o dinheiro da Vale".

O número indicado por ele corresponde ao número de famílias cadastradas nos movimentos sociais. Para ele, a solução para o déficit habitacional em Belo Horizonte seria repetir a política adotada pela ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, entre 1989 e 1992. "Acreditamos no modelo de autoconstrução, como a Erundina apostou em São Paulo, e o padre Pigi (da luta por moradia ligada à Arquidiocese de Belo Horizonte) no Conjunto Felicidade. A autogestão significa que o governo fornece materiais de construção e o terreno, e nós mesmos construímos os imóveis".

O modelo é também citado pela vereadora Bella Gonçalves (PSOL) como um dos caminhos para sanar o deficit habitacional na capital mineira. "A primeira solução é definir uma política para utilização de imóveis vazios. A segunda receita é investir em provisões habitacionais para famílias de baixa renda, ou seja, mexer na política de alugueis para tentar garantir preços mais baixos. A terceira repete o que Luiza Erundina executou em São Paulo. O município oferece o terreno, a assessoria técnica e os materiais de construção, e as famílias, de forma auto-organizada, conseguem construir suas moradias", afirma.

Fonte: O Tempo

Ciro Nogueira aceita ida para a Casa Civil e Bolsonaro volta às origens com a velha política

Com minirreforma ministerial, presidente dá mais poder ao Centrão e desaloja militares de postos-chaves do Governo. General Ramos deve passar para a Secretaria-Geral da Presidência e Onyx Lorenzoni seguirá para o Trabalho, pasta que deve ser recriada

Quando indagado sobre as denúncias contra seu aliado, Bolsonaro minimizou. Disse que ele próprio é réu no STF e isso não o inviabilizaria no cargo. Durante a semana passada, Bolsonaro afirmou também que ele mesmo surgiu do Centrão e disse que essa era um nome pejorativo do grupo, ao qual prometeu não ceder no passado. “Se eu afastar do meu convívio os parlamentares que são réus ou têm inquérito, eu perco quase metade do Parlamento. Quem colocou o Ciro, eu aqui... Eu sou réu no Supremo Tribunal Federal. Sabia disso? Então, não deveria estar aqui também. Todos nós só somos culpados depois de transitado em julgado”, afirmou em entrevista à rádio Arapuan FM, da Paraíba. O presidente é acusado de apologia ao estupro e injúria no episódio em que, numa discussão com a deputada Maria do Rosário (PT-RS), afirmou que ela não merecia “nem ser estuprada”.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) confirmou ter aceitado o convite de Jair Bolsonaro para comandar a Casa Civil. A confirmação de que ele substituirá o general Luiz Eduardo Ramos na pasta foi feita pelo parlamentar em uma rede social na manhã desta terça-feira, após uma reunião com o presidente em Brasília. Nogueira será o terceiro ministro do Centrão sob Bolsonaro ―os outros são os deputados Fábio Faria (PSD-RN), das Comunicações, e Flávia Arruda (PL-DF), da Secretaria de Governo. Já o general Ramos, que chegou a afirmar ter sido “atropelado” pelas mudanças, deve ser realocado para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje com Onyx Lorenzoni, que deve assumir o novo ministério do Trabalho. A minirreforma ministerial implica uma perda de espaço dos militares no entorno do presidente, mas está longe de ser uma diminuição do poder da caserna no Governo, que tem oficiais espalhados por mais de 6.000 postos na máquina pública. Trata-se, entretanto, de uma importante sinalização de Bolsonaro para o Legislativo. Expoente do Centrão, o senador terá a missão de moderar o discurso do presidente contra a classe política.


Congressista pelo Piauí, o pepista deve aproximar ainda mais Bolsonaro dos caciques do Legislativo e servir como o articulador da presidência com os demais ministérios. Ele quer evitar que Bolsonaro faça jogos de cena, como o da última semana, quando o presidente sinalizou que vetaria o fundo eleitoral para bancar a campanha de 2022 no valor 5,7 bilhões de reais, enquanto nos bastidores negocia o valor de 4 bilhões de reais, o dobro da eleição de 2020.

Entre suas funções também está a de arrefecer o clima no Senado Federal, onde a CPI da Pandemia tem feito a Gestão Federal sangrar, com a revelação de pedidos de propinas supostamente feitos por militares no Ministério da Saúde no processo de compra de vacinas e a constatação de que o Governo investiu em estratégias ineficazes para enfrentar a covid-19. Nesta segunda, o Brasil ultrapassou a marca de 550.000 mortes em decorrência da doença, enquanto a avaliação da condução do Governo na crise sanitária vai de mal a pior.

Velha política

Com a iminente ida do parlamentar para a Casa Civil, Bolsonaro abandona mais uma promessa de campanha: a de se afastar do que ele mesmo classificava como velha política. Com quase três décadas de trajetória no Congresso Nacional, Ciro Nogueira é presidente do fisiológico Partido Progressista e responde a duas denúncias e a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é acusado de receber ilegalmente 7,3 milhões de reais da empreiteira Odebrecht para defender os interesses da empresa e de obstrução da Justiça. Ainda é investigado por receber propinas do grupo J&F em troca do apoio de seu partido à eleição de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) em 2014. Os casos ainda não foram julgados e o parlamentar nega irregularidades.

Quando indagado sobre as denúncias contra seu aliado, Bolsonaro minimizou. Disse que ele próprio é réu no STF e isso não o inviabilizaria no cargo. Durante a semana passada, Bolsonaro afirmou também que ele mesmo surgiu do Centrão e disse que essa era um nome pejorativo do grupo, ao qual prometeu não ceder no passado. “Se eu afastar do meu convívio os parlamentares que são réus ou têm inquérito, eu perco quase metade do Parlamento. Quem colocou o Ciro, eu aqui... Eu sou réu no Supremo Tribunal Federal. Sabia disso? Então, não deveria estar aqui também. Todos nós só somos culpados depois de transitado em julgado”, afirmou em entrevista à rádio Arapuan FM, da Paraíba. O presidente é acusado de apologia ao estupro e injúria no episódio em que, numa discussão com a deputada Maria do Rosário (PT-RS), afirmou que ela não merecia “nem ser estuprada”.

Entre os que acompanham o dia a dia da política em Brasília, há a sensação de que o que está em jogo para o presidente é apenas a eleição de 2022, que ocorrerá daqui a 14 meses. Bolsonaro não estaria, neste momento preocupado com um eventual impeachment, já que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já indicou que não deve aceitar nenhum pedido contra ele, ainda que existam dezenas de crimes de responsabilidade. “O que está no radar do presidente é: tenho de salvar o Governo, não adianta continuar com esse discurso radical de sempre e perder a eleição”, disse o analista político e fundador da consultoria Dharma, Creomar de Souza.

Com a popularidade abaixo dos 30% e rejeição superando os 50%, o presidente tenta buscar uma nova solução para a reta final de seu mandato. A sua minirreforma ministerial implica ainda na recriação do Ministério do Trabalho e Previdência Social, para onde seria deslocado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), hoje na Secretaria-Geral da Presidência, que seria sucedido pelo general Ramos. Para o analista político, o presidente tem a avaliação de que o Lorenzoni trouxe resultados positivos na distribuição do auxílio emergencial no ano passado.

Atualmente, as áreas de Trabalho e Previdência são vinculadas ao Ministério da Economia, de Paulo Guedes. O acordo informal com Guedes é que, em 2022, quando Lorenzoni deverá disputar a eleição, essa área volte para a sua alçada. “Agora, ele espera que, no Trabalho, o ministro implemente políticas de emprego e renda que resultem numa melhor avaliação de seu Governo”, disse. E essa eventual melhora na avaliação seria o caminho para colocá-lo em pé de igualdade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem ele deve polarizar a disputa de 2022, conforme a fotografia do momento político.

Dança das cadeiras mexe com cúpula militar

A dança de cadeiras na Esplanada dos Ministérios implica na ida de Ramos para a Secretaria-Geral da Presidência. Apesar de ter sabido da mudança pela imprensa, ele aceitou o rebaixamento de posto e, no mesmo dia em que foi informado sobre a substituição, publicou uma foto ao lado do presidente e disse que era uma honra estar no time dele.

Há pouco mais de um ano, os quatro gabinetes de ministérios no Planalto eram ocupados por militares, além de Ramos, que era da Secretaria de Governo, cercavam o presidente os generais Walter Braga Netto (Casa Civil) e Augusto Heleno (GSI), assim como o capitão da PM Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). A redução de espaços no entorno do presidente não significa, contudo, uma perda derrota dos militares, já que há pelo menos 6.157 espalhados pela máquina pública em cargos comissionados. Além disso, os dois principais cargos do Executivo ainda são ocupados por representantes da caserna. “O presidente e o vice, o general Hamilton Mourão, não deixaram de ser militares. Por mais que tenha políticos do Centrão, esse sempre será um Governo militar”, disse o coronel da reserva Marcelo Pimentel, um dos militares que têm feito oposição ao presidente nas redes sociais.

Ainda assim, na avaliação de Pimentel, só o fato de se debater potenciais brigas por de espaços entre políticos profissionais e militares dentro da máquina estatal já demonstra o quão contaminado e equivocado está a discussão pública. “O lugar de militar é no quartel. Quando se discute quem está ganhando ou perdendo, já mostra que essa presença militar foi naturalizada, algo que não acontece em nenhuma outra democracia do Ocidente”, analisa.

Se com os militares é mais fácil identificar seus rastros, já que todos um dia tiveram ou ainda têm alguma patente, o mesmo não pode ser dito dos indicados pelo Centrão. O que se sabe é que, além dos dois ministérios que já gerenciam, há representantes deste grupo em cargos de segundo e terceiro escalões nos ministérios da Educação, da Saúde, da Infraestrutura, da Economia, da Ciência e Tecnologia, da Cidadania e do Desenvolvimento Regional. Assim como conselheiros em diversas agências reguladoras, como a da Saúde, a das Águas (ANA), a dos Transportes Terrestres (ANTT) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

Fonte: El País

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Brasil duplica o número de armas de fogo nas mãos da população em três anos

Em 2020, alta na posse de armamentos foi de 97,1% após flexibilização de regras promovidas por Bolsonaro, segundo o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Homicídios voltam a crescer após dois anos de retração, com destaque contra população LGBTQIA+

O Brasil duplicou o número de armas de fogo nas mãos de civis em apenas três anos: um arsenal de, pelo menos, uma arma a cada 100 brasileiros. São 2.077.126 exemplares nas mãos da sociedade civil, aqui incluídas as armas pessoais de policiais e militares. Apenas em 2020 foram registradas 186.071 novas armas, um aumento de 97,1% em relação ao ano anterior. Em Alagoas, o crescimento do número de registros de novas armas chegou a 691% de um ano para o outro, uma tendência acompanhada —ainda que com menor força— pelos demais Estados. Por outro lado, os mecanismos de controle de armamentos aparecem fragilizados. Em 2019 o Exército brasileiro destruiu 125.860 armas irregulares, ao passo que em 2020 apenas 62.366 foram destruídas. Uma redução de 50,4%. Os dados são do anuário 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quinta-feira. É o levantamento mais completo de dados de segurança relativos ao ano de 2020, marcado pela pandemia no novo coronavírus.

O Brasil duplicou o número de armas de fogo nas mãos de civis em apenas três anos: um arsenal de, pelo menos, uma arma a cada 100 brasileiros. São 2.077.126 exemplares nas mãos da sociedade civil, aqui incluídas as armas pessoais de policiais e militares. Apenas em 2020 foram registradas 186.071 novas armas, um aumento de 97,1% em relação ao ano anterior. Em Alagoas, o crescimento do número de registros de novas armas chegou a 691% de um ano para o outro, uma tendência acompanhada —ainda que com menor força— pelos demais Estados. Por outro lado, os mecanismos de controle de armamentos aparecem fragilizados. Em 2019 o Exército brasileiro destruiu 125.860 armas irregulares, ao passo que em 2020 apenas 62.366 foram destruídas. Uma redução de 50,4%. Os dados são do anuário 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quinta-feira. É o levantamento mais completo de dados de segurança relativos ao ano de 2020, marcado pela pandemia no novo coronavírus.

“Infelizmente não há o que se comemorar. O anuário tem a ingrata missão de trazer notícias ruins”, diz David Marques, coordenador de projetos do fórum. Marques chama a atenção para a piora generalizada nos dados referentes à segurança pública e destaca os desníveis existentes entre as regiões do país, afetadas pela deterioração socioeconômica trazida pela crise sanitária.

Além da explosão do número de armas nas mãos de civis, outros dados chamam a atenção. Após dois anos de reduções, as mortes violentas voltaram a apresentar números crescentes no Brasil. Em 2020, 50.033 pessoas foram assassinadas no país, um acréscimo de 4% em comparação a 2019. Em compensação, houve a redução generalizada dos crimes patrimoniais. A violência contra a população LGBTQI+ também aumentou. Nesta população, os homicídios cresceram 24,7% e as agressões 20,9% no ano passado.


Armas, discurso presidencial e apagão pandêmico

Os advogados e membros do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Isabel Figueiredo e Ivan Marques ligam o aumento explosivo na posse de armas de fogo à retórica e às políticas do presidente Jair Bolsonaro. Em seu mandato, Bolsonaro assinou portarias e decretos para flexibilizar o acesso a armamentos, algumas medidas vetadas ou restringidas depois pelo Supremo Tribunal Federal. Nesta guerra jurídica, entre os atos do presidente e o juízo do STF, a venda de armas evoluiu. Na prática, analistas do setor consideram que o mandatário desfigurou o Estatuto do Desarmamento, de 2003, o conjunto de leis voltadas ao controle de armas e responsável por salvar mais de 160.000 vidas, segundo estudos. Apesar da enfática defesa do Planalto pró-armas, um dado merece destaque: apenas 10,4% dos policiais —tradicional base bolsonarista— é favorável à posse e porte ilimitados de armas para todos da população.


Quanto à violência de gênero e contra crianças e adolescentes, o anuário apresenta um quadro nebuloso. A razão está no fato de que a pandemia provocou silenciamento na notificação destes casos. A suspensão das aulas presenciais, a diminuição da frequência de serviços da rede pública e mais tempo em casa —onde, muitas vezes, estão os algozes destas vítimas— contribuíram para que muitas vítimas deixassem de denunciar as violências sofridas.


No caso de estupros de vulneráveis, 2020 registrou 9,4% menos notificações do que em 2019. Apesar da redução, a pesquisadora Sofia Reinach aponta que não há muito o que se comemorar. Ela contrasta os dados relativos às mortes violentas (que impedem a subnotificação) e os estupros de vulneráveis notificados. Nos meses de março, abril e maio de 2020 as mortes violentas foram 34% maiores do que nos outros meses do ano, o que indicaria que a violência não diminuiu, mas em muitos casos está subnotificada.


Outro ponto que parece ter sido afetado pela situação específica da pandemia foi a diminuição dos registros de lesão corporal por violência doméstica. Foram 7,4% menos casos notificados em 2020. No entanto, o crescimento de 3,6% na concessão de medidas protetivas de urgência e de 16,3% das ligações de violência doméstica no número 190 da Polícia Militar permitem inferir que a violência dentro de casa continuou existindo e em níveis elevados. Ao longo do último ano, foram feitas 1,3 chamadas para denunciar casos de violência doméstica a cada minuto.

Fonte: El Pais

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Direita chama ato pelo impeachment de Bolsonaro para o dia 12/9

Organizações anunciaram convocação contra o presidente e visam recuperar protagonismo perdido após o golpe contra Dilma Rousseff

Previstos inicialmente para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, os organizadores pretendem contar com a presença de figuras da direita não bolsonarista, em especial de filiados e eleitores do Novo e do PSL, partidos que ajudaram a eleger o atual presidente, mas que desembarcaram de seu governo posteriormente.

Grupos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua (VPR), anunciaram nesta quinta-feira (8) protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e por seu impeachment. A data divulgada para os atos é 12 de setembro.

Previstos inicialmente para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, os organizadores pretendem contar com a presença de figuras da direita não bolsonarista, em especial de filiados e eleitores do Novo e do PSL, partidos que ajudaram a eleger o atual presidente, mas que desembarcaram de seu governo posteriormente.